Acordei
numa dessas manhãs, imagino que como a maioria das pessoas, enojado com toda
essa miséria política que nos tomou de assalto nas últimas décadas.
Assalto,
na verdadeira acepção da palavra, mas também na metafórica.
Tudo
se desanuviou quando um grande amigo, sobrevivente de um grave AVC (Acidente
Vascular Cerebral), me chama ao telefone logo pela manhã, uma das várias
cinzentas dessa época do ano.
Sequelado
por uma disartria bastante importante confidenciou-me, com dificuldade, uma
enorme preocupação. Ele estava angustiado porque não sabia quem, porventura,
iria sepultar o seu animal de estimação quando ele morresse - uma bela
tartaruga com quem se habituou a conviver há alguns anos.
Emocionou-me
o fato de tudo ter acontecido após ele ter lido o meu artigo sobre o cão de
Ipanema que, depois de perdido, encontrou novos donos e descobriu uma vida de
glória e de muitos amigos.
Imediatamente,
ao se dar conta de sua finitude, lembrou que as tartarugas são longevas e que,
provavelmente, o seu animal de estimação não teria a sorte do cão do Posto 9. Esse pensamento
deixou o meu amigo muito mobilizado.
Impressionante
como a sensibilidade desses pacientes fica hipertrofiada, atrelando-os
fortemente à natureza e a tudo que, no mundo dos saudáveis, parece adormecido.
Seus
sintomas de riso e choro espasmódicos refletem essa imensa sincronicidade com o
universo.
Tamanha
solidariedade com um bicho de pouca, ou nula, comunicação com os seres humanos,
foi algo que me deixou emocionado e pensativo.
Comecei
a pensar que todo e qualquer vínculo pode tirar o homem de sua miséria
existencial.
Na
velhice e na doença esses vínculos vão se tornando cada vez mais necessários,
já que a sensação de solidão é progressivamente proporcional à finitude.
Enfim,
foi um telefonema que me fez pensar nos segredos dessa energia vital que nos
mantém atrelados uns aos outros, ainda que pertencentes a ramos diferentes da
espécie animal.
O
universo é um só, e ainda que não pensemos nisso, precisamos de tudo e de todos
a todo tempo.
Pena
que a onipotência da juventude não nos deixava ver tudo isso antes.
Daí,
o dito popular: “se os jovens soubessem e se os velhos pudessem”...
Gabriel
Novis Neves
22-09-2015
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