Durante
a minha longa caminhada acumulei muitas experiências. Hoje elas fazem parte da
constelação dos meus pontos luminosos - aqueles que Carlos Heitor Cony diz que
são marcas jamais esquecidas.
Interessante
como os jovens acham que as pessoas idosas são como um imenso almoxarifado,
etiquetadas com situações vividas ao longo da vida.
Tudo
que aconteceu conosco, desde nosso nascimento, está gravado e armazenado no
nosso indecifrável cérebro, órgão de acesso difícil.
Através
de anos de psicanálise, algumas vezes conseguimos extrair algo desse mundo
ainda pouco conhecido pela ciência.
Entretanto,
recordamos com facilidade as situações que muito nos marcaram, independente do
tempo decorrido.
Parece
que esses fatos estão sempre superficiais em nossas mentes, prontos a se
exteriorizarem quando solicitados.
Por
exemplo, não me lembro de absolutamente nada da festa dos meus treze anos de
idade.
Tenho
certeza que essa data foi comemorada pela minha família, com mesa de doces e
salgadinhos caseiros e o bolo de velas para o “parabéns pra você”.
Porém,
jamais me esquecerei do julho em que completei quarenta anos, onde não houve a
tradicional mesa de doces e salgadinhos. O que houve foi o início da ingestão
diária de aspirina de cem miligramas para evitar o infarto do miocárdio.
Na
ocasião, a expectativa de vida era inferior aos setenta anos e a incidência por
doenças coronarianas era elevada.
Foi
o aniversário do medo.
O
governador do “Novo Mato Grosso” - Pedro Pedrossian - certa vez, reuniu-se com
alguns secretários em sua residência - único lugar em que conseguia trabalhar
em paz - e determinou ao então Presidente das Centrais Elétricas de MT uma
série de providências em relação à eletrificação da região da Grande Dourados.
Como
Secretário de Educação eu a tudo assistia, sabendo que obras têm custo
financeiro.
Concluída
as solicitações do governador, que transformou o antigo Estado Curral em Estado
Universitário - criando oportunidade para todos - o responsável pela estatal de
energia perguntou ao chefe do executivo a fonte dos recursos para tamanha
demanda.
Como
resposta, a sua demissão. Ao ver concretizado o ato, retirou-se da reunião
elegantemente e murmurou: “Pedro, falar é fácil, difícil é fazer”.
Mato
Grosso, ainda não dividido e sem apoio do governo federal, vivia momentos
difíceis em sua economia.
Existiam
muitas frentes de trabalho em andamento, sendo bom lembrar a construção das
duas Cidades Universitárias (Cuiabá e Campo Grande), além de Centros Pedagógicos
em Rondonópolis, Corumbá, Aquidauana, Dourados e Três Lagoas.
Obras
não se fazem apenas com projetos e vontade política, mas, principalmente, com
dinheiro.
Ficou
inesquecível para mim o “falar é fácil, difícil é fazer”.
Gabriel
Novis Neves
27-08-2015
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