Esta crônica surgiu da conversa que diariamente acontece com as minhas funcionárias de quarenta e cinquenta anos de idade, sobre os mais variados aspectos do cotidiano.
Sendo eu bem mais idoso que ambas, pois tenho 87 anos, a visão que elas têm quando o assunto é pobreza, é totalmente diferente daqueles mais antigos.
Pobre para elas são todos aqueles que não moram em elegantes condomínios fechados, edifícios chiques nos bairros mais nobres da cidade, com dois ou três carros de luxo na garagem, onde o preço do condomínio é muitas vezes superior ao aluguel de um bom apartamento, casa na Chapada ou Manso.
Férias duas vezes por ano nas melhores cidades do Brasil ou Miami e cidades da Europa.
No momento essa classe pensa em se aposentar e morar em Portugal.
Como se percebe, mudou o conceito de pobreza.
A classe média não existe mais e a pirâmide social ficou bastante aumentada, e só com auxílio do VAR com o traçado da linha azul, conseguimos separar os pobres dos miseráveis.
Atualmente temos os milionários, os remediados (antiga classe média), achatando aos que ficam na linha dos pobres e miseráveis e que estão aumentando.
No ambiente em que nasci e fui criado, não conheci os miseráveis, não existia essa separação tão profunda das classes sociais, cujos filhos frequentavam a mesma escola pública, o mesmo posto de saúde, a mesma igreja, onde todos eram iguais.
Meus pais nunca possuíram automóveis, e a casa própria só foi adquirida depois de trinta anos de trabalho no bar, dia e noite, sem direito as férias e feriados religiosos e nacionais.
Esta última funcionária, principalmente, não acredita na minha tese que fui uma criança pobre, que nunca me faltou nada para ser muito feliz.
Sorridente, afirma que eu nunca fui pobre, pois nunca tive cara de pobre.
É a repetição da história da pinga: “todos contam o número dos copos de pinga que tomei, mas não contam os números de quedas que sofri”.
Faço as comparações: você e o seu marido não estudaram, porém você é uma excelente cozinheira e acompanhante de idosos, ele é pedreiro e funcionário de uma instituição como motorista.
Têm ampla casa própria e carro na garagem, com uma renda familiar de mais de quatro mil reais mensais, correspondente ao salário de um professor universitário.
A outra estudou enfermagem em universidade particular, pagando altas mensalidades.
Terminado o curso, trocou a moto que lhe servia por um carro novíssimo saído da revendedora de veículos.
Possui também residência própria com todos os apetrechos modernos: fogão elétrico, geladeira, máquina de lavar roupas, televisões e ar refrigerados nos quartos.
Houve acordo no final da conversa e hoje as classes sociais foram achatadas, sendo formada de milionários, pobres, muito pobres e miseráveis.
Todos nós três citados na crônica não somos pobres.
Gabriel Novis Neves
01-08-2022
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