domingo, 28 de agosto de 2022

OS PITORESCOS 40


Bem antigamente, os pitorescos vinham com o número da sua sequência em algarismos romanos, pois o autor não tinha certeza da sua durabilidade. Hoje, são marcados pelos algarismos arábicos.


Na Cuiabá antiga e elegante, os casarões coloniais, assim que as suas construções eram concluídas, bem acima da porta principal era colocada em algarismos romanos o século que foram concluídas. Hoje, só encontramos nos casarões do Centro Histórico, e que não foram ainda demolidos.


Bem antigamente, as ruas do centro de Cuiabá possuíam trilhos por onde passavam os bondes puxados por burros, animais prediletos para esse trabalho. Naquela época o peido do animal não poluía o ar atmosférico, tampouco produzia o efeito estufa. Hoje, existem leis de proteções aos animais e meio ambiente, condenando esse tipo de transporte público.


Bem antigamente, trilhos eram caminhos para trens e bondes. Hoje, têm trilhos que brotam nos canteiros entre duas avenidas. Tem começo e fim, ligando nada a nada e por onde não passam bondes, pois trem só conhecemos nos desfiles das Escolas de Samba.


Na Cuiabá antiga, seus moradores foram contra a chegada do trem. Diziam que iriam trazer muita gente de fora acabando com o seu sossego. Hoje, Cuiabá não tem trem nem seu genérico urbano, que é o VLT (veículo leve sobre trilhos). Porém, a cidade está cheia de trilhos, sem sequência para instalar o VLT e garagens cheias de vagões novos apodrecendo. Construíram até um elevado de concreto armado que escondeu uma das poucas coisas a serem vistas em Cuiabá, que é o campus universitário, no Coxipó, poluindo de mal gosto toda a região, sem protesto de ninguém.


Bem antigamente, Cuiabá era limitada por uma série de Largos, depois transformados em Praças. Recebiam esses nomes dos seus prédios mais importantes como Praça da Matriz, onde ficava a Igreja da Matriz, e Praça do Palácio, local do Palácio do Governo. Hoje, a Praça da República é a antiga da Matriz, e a Praça Alencastro, onde havia a do Palácio.


Na Cuiabá antiga, brinquei no Largo da Mandioca, ondo morou o 1º Governador da Província. A lavadeira Maria Augusta morava lá e eu conheci o casarão. Joguei futebol no Largo do Quintal Grande. Hoje, qualquer espaço público é ocupado para vender churrasquinho feito na hora, poluindo os espaços.


Bem antigamente, quando acabou o ouro em Cuiabá, teve início a criação de gado, e o cultivo do milho, algodão, mandioca e cana-de-açúcar. Também, atividades artesanais foram aparecendo. Alguns comerciantes exerciam também atividades de importação. Era normal importar louças e tecidos finos da Europa. Em compensação, saiam daqui diamantes e tecidos grosseiros. Os escravos que chegavam iam diretamente para as Minas de Diamantino para produção de diamante. O último garimpo de Cuiabá, foi na região do CPA (Centro Político e Administrativo). Hoje, no Nortão do Estado existe muito diamante e ouro, explorado por grandes mineradoras, com tecnologia de ponta.


Na Cuiabá antiga, ninguém pensava que a agricultura e a pecuária, fosse transformar no poderoso agronegócio, explorado pelos migrantes do sul do Brasil. Hoje, Cuiabá é a sede do agronegócio.


Bem antigamente, os casamentos em Cuiabá eram pouco frequentes (1825). Só os homens maduros é que buscavam uma companheira para os tempos de velhice. Meu pai casou aos quarenta anos, com uma mulher de vinte anos, em 1934. Assim mesmo teve nove filhos, e morreu aos 88 anos de idade. Quando ele se casou, a expectativa de vida era de 45 anos. Outros viviam amancebados. A fidelidade conjugal era muitas vezes falseada. Hoje, o casamento continua muito parecido, ao da época da fundação de Cuiabá.


Na Cuiabá antiga, as mulheres se respeitavam e muitas tinham maridos que eram de outras. Hoje, com o DNA, tudo ficou diferente.


Bem antigamente, as filhas de pais pobres nem pensavam em casamento, só as de “classe alta” distinta de outras porque era rica. Pertencia a essa “classe alta” à Irmandade do Senhor Bom Jesus (1728). A Irmandade exigia no seu estatuto: pessoas brancas de boa convivência e fama. Hoje, as filhas de pais pobres estudam, e ocupam os cargos mais importantes que pertenciam a “classe alta”.


Na Cuiabá antiga, filho de pedreiro crescia para ser pedreiro, filho de sapateiro seria sapateiro, filho de coveiro de cemitério seria coveiro, filho de pescador seria pescador, filho de lavrador, seria lavrador. Mauro Mendes, filho de lavrador paupérrimo de Goiás, estudou engenharia elétrica na UFMT, e, é Governador do Estado. Hoje, com a UFMT (1971) os pobres têm as mesmas oportunidades, ocupando os lugares que eram dos aristocratas e seu reitor-fundador era filho de um dono de bar.


Gabriel Novis Neves

26-07-2022




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