segunda-feira, 8 de agosto de 2022

O HOMEM E A IMPRENSA


No almoço estava assistindo pela televisão as notícias sobre o Brasil e o mundo.


Sempre o assunto é o mesmo, mudando cenários e personagens.


Mortes naturais e violentas, estupros, assaltos, crimes agora são organizações criminosas, desastres de carros leves e pesados, desmoronamentos de encostas de morros e prédios, guerra entre países, desvalorização da nossa moeda, inflação, crise do petróleo no Oriente Médio, parada do crescimento na China e fome generalizada no mundo.


No esporte a eliminação do Galo, Porco, Peixe e Fogão.


Quando adolescente lembro do meu pai trazendo para casa a edição do Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro.


Meu avô preferia o Correio da Manhã, também do Rio.


Quando estudante de medicina, ia ao Diretório e encontrava os principais jornais do Rio e São Paulo, sendo o de preferência dos acadêmicos, o Diário de Notícias especializado em notícias universitárias.


Minha casa só possuiu um rádio, em 1950, por ocasião da Copa do Mundo no Maracanã.


Tinha inveja dos meus vizinhos que possuíam rádio, para ouvir programas de música sertaneja de raiz, a Rádio Nacional do Rio, a Bandeirantes de São Paulo e a nossa Voz do Oeste.


O rádio eletrola foi transferido do bar do Bugre, para nossa casa.


Era um enorme móvel com uma tampa de madeira na sua parte superior, para ouvir discos em 16 rotações por minuto com direito a virar o bolachão de vinil, colocando sobre ele o braço da eletrola com uma agulha na ponta, produzindo pelo contato com o disco girando, o som da melodia.


O rádio funcionava na parte de baixo do móvel, com dois enormes alto-falantes protegidos por um belo trabalho de madeira, e uma tela de tecido especial.


Não existia as ondas em FM, e o que funcionava quando a energia permitia era a ruidosa AM.


Esse móvel seria hoje, uma peça importante para os colecionadores de antiguidades.


Como gostaria de tê-lo em minha casa!


Nem ao menos sei que fim levou.


Adolescente, lia o Jornal do Brasil e comentava com o meu pai.


Pai a coisa está feia, é tanta coisa ruim, que nem sei se vale a pena continuar estudando.


Na escola fiquei sabendo que as águas da enchente do rio Cuiabá este ano, ultrapassarão a igreja de São Gonçalo no Porto, invadindo toda a Várzea de Ana Poupina e outros bairros próximos, e o transporte nessa região só de canoas.


No almoço solitário, aos 87 anos, tudo que escrevi passou como um filme em minha mente.


Meu pai nunca se entusiasmou com o noticiário, pois sabia que as notícias aterrorizantes é que faziam vender os jornais.


Ele nasceu em 1894 e de lá para cá as coisas boas foram infinitamente superiores as más, para desespero das Ongs.


O avanço inacreditável da medicina, tecnologia, comunicação, transporte, fez aumentar a expectativa de vida e conquistas sociais.


Tudo melhorou no Brasil nestes últimos cem anos.


Enquanto as mídias só vomitam as desgraças, o comportamento do ser humano de um modo geral é totalmente diferente.


O homem se recusa a compartilhar as suas dores, escondendo os seus males dos seus próprios familiares, ficando inclusive aborrecido quando um familiar se dispõem a ajudá-lo, material ou espiritualmente.


Jô Soares sintetizava tudo isso em um quadro de humor, quando interpretava um argentino necessitado, no Programa Viva o Gordo.


Gabriel Novis Neves

05-08-2022




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