Foi inaugurado em 1920 e fechou suas portas em 1970, para orgulho do meu pai, o Bugre do Bar.
Só na junta comercial existiu o Bar Moderno, que era o Bar do Bugre.
Escrever sobre esses cinquenta anos da sua existência é um trabalho prazeroso, embora as primeiras lembranças que guardo do bar sejam de 1942, vinte e dois anos após a sua inauguração.
Depois tivemos um hiato de 1953 até 1964, período que estava no Rio de Janeiro estudando medicina.
Seis anos após o meu retorno, meu pai fechou o bar, aos 76 anos de idade por motivos de saúde e, por preferir dar educação superior aos seus quatro filhos homens, que os preparar com o segundo grau completo, para sucedê-lo.
Tive pouco tempo de convivência com ele no bar sendo o período mais intenso de 1942, antes de completar sete anos, até meus 17 anos.
Voltei e tive poucas oportunidades de ficar no bar em sua companhia, ao lado da Caixa Registradora que guardava “a féria” do dia em notas e moedas.
Mesmo assim, quando guri, presenciei muitos movimentos acontecidos lá, que fazem parte da história de Mato Grosso.
Os desfiles escolares e militares pela Getúlio Vargas iniciavam na rua 13 de Junho, nas imediações da Praça Ipiranga, e o meu pai, numa das portas da sorveteria do bar, ficava contemplando o desfile.
Desfilei pela Escola Modelo Barão de Melgaço (1942-1945), Colégio Salesiano São Gonçalo (1946-1950) e Colégio Estadual de MT (1951-1952).
O Bugre sempre me aplaudindo quando eu passava, e chegava em casa alegre dizendo que a minha escola tinha sido a melhor do desfile.
Mal sabia ele que, ainda com o bar aberto ele iria assistir ao desfile, com o seu filho Secretário da Educação do Estado de MT (1968-1971).
O Bar Moderno sempre foi o grande guarda-chuva, mictório e caixa de ressonância da Cuiabá antiga.
Era o refúgio para aqueles que na rua precisavam se abrigar dos temporais, satisfazer suas necessidades fisiológicas e difundir as principais notícias da velha capital.
Quantos fatos relevantes aconteceram nas mesas do Bar Moderno!
Meu pai tinha ideologia política, preferência por partidos políticos e sempre votou nos candidatos do seu partido.
Veio da velha política e sempre acreditou que candidato majoritário do governo nunca perdia eleição.
Votou em Eurico Gaspar Dutra e Cristiano Machado para Presidente do Brasil.
Mesmo governista, nunca usufruiu do poder, e no bar não conversava sobre política.
Dizia sempre para mim: “comerciante (naquela época não se usava o termo empresário) não pode externar suas preferências políticas, pois têm fregueses de todas as correntes”.
E continuava: “Se fizer campanha ou demonstrar simpatia por este ou aquele candidato, serei o bar de tal partido, diminuindo minha freguesia, e a função do comerciante é fornecer conforto e tranquilidade a todos que procuram o seu estabelecimento comercial, aumentando seu faturamento para não deixar faltar nada em casa e educar seus filhos”.
Meu pai, o Bugre do Bar, que era Bar Moderno, tinha um jeito todo especial de enfrentar os grandes desafios da vida.
Nunca adoeceu nesse período do bar aberto, e certas missões eram suas exclusividades como abrir o bar pela manhã.
O fechamento era feito pelo seu irmão Tinô, que morava na rua do Campo, em uma casa em frente à Residência dos Governadores.
Enquanto estive aqui, saía cedo de casa com o meu pai, passava na casa ainda fechada do tio Tinô, batia duas vezes na janela do seu quarto de dormir e logo ele abria e me passava a chave do bar que era única, cuja entrada era pela Getúlio Vargas, onde existia a engraxataria.
As outras portas e janelas eram fechadas com tranca.
Papai entrava no bar, ficava fechado até a chegada dos seus funcionários, fazendo o caixa do dia anterior no pequeno e imundo escritório no fundo do bar, onde existia “a burra do Bugre”.
Gabriel Novis Neves
29-08-2022
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