Parecia um dia de folga no conserto cotidiano de um apartamento velho.
Até que enfim teria um final de semana livre da torneira vazando água, do fogão com todas as suas bocas funcionando, os quadros do chão pregados na parede e meu ar refrigerado gelando.
O nosso organismo também envelhece como os utensílios de uma casa.
Agora com o Covid que não nos deixa, até as criancinhas têm que vacinarem para se protegerem desse vírus que mata.
A manutenção de uma casa velha, exige sempre a presença de especialistas, como nos humanos.
Pedreiros, pintores, marceneiros, desentupidores de pias, eletricistas, chaveiros, são alguns dos mais presentes em minha casa.
Assim como para cuidar do meu corpo envelhecido, estou sempre a procurar cardiologistas, pneumologistas, infectologistas, endocrinologistas, neurologistas, ortopedistas e tantos outros.
Cedo a minha funcionária do dia veio me comunicar que recebera um chamado da portaria avisando que os elevadores entraram em manutenção, sem prazo para o seu término.
Também que poderia faltar energia no nosso edifício.
A não ser a falta de energia, que iria me impedir de esvaziar a minha mente produzindo as crônicas no computador, o uso dos elevadores não me afeta.
Este ano estou marcando às vezes que utilizo esses elevadores, não esquecendo que moro no vigésimo andar.
Em trinta anos não chega a dez às vezes que subi pelas escadas, humanamente impossível nos dias de hoje pela artrose nos joelhos.
O envelhecimento do corpo humano é uma realidade, e em mim começou nas proximidades dos cinquenta anos.
Uma leve hipertensão arterial descoberta por acaso, sem sintomas.
Estava de plantão no hospital universitário à noite e resolvi checar os aparelhos de aferição da pressão arterial na sala de enfermagem de ginecologia e obstetrícia.
Como a minha pressão até então era normal, sentei-me em uma cadeira de ferro com braços, em encosto e assento de cordas elásticas cor de rosa.
As enfermeiras recolheram todos os aparelhos em uso e realizaram o meu desejo.
Todos acusaram uma elevação da máxima e mínima, e no outro dia em consulta com o cardiologista, tornei-me oficialmente hipertenso, e passei a fazer uso de anti-hipertensivos.
Por ocasião de Jogos Olímpicos, do outro lado do mundo, os jogos passados pela televisão eram à noite e de madrugada.
Mais uma vez, no plantão noturno das quartas – feiras, tinha como um dos colegas de plantão, o José Aguilar do Nascimento, triatleta e fanático pelos jogos.
Ficávamos no reservado aos médicos, sentados em um confortável sofá azul, assistindo de ginástica olímpica ao futebol.
Repetidamente solicitava ao Aguilar, bem mais novo que eu, que se levantasse para regular a televisão melhorando a imagem que dizia embaçada.
Na quinta vez ele me perguntou se eu já havia feito um exame oftalmológico.
Deixei o plantão e fui ao especialista que me perguntou: você lê, opera, dirige carro?
Sim, e deixei o consultório com uma receita de óculos multifocais!
De lá para cá tenho acrescentados os mais variados especialistas em meu currículo, de plena saúde aos 87 anos.
No meu prédio não pode faltar energia, mas o meu coração tem uma bateria (marca-passo) para uma emergência.
Gabriel Novis Neves
15-07-2022
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.