domingo, 7 de agosto de 2022

DR. ADIB JATENE


Lendo recentemente uma pequena biografia do professor Adib Jatene, escrita pelo nosso colega de turma Milton Meier, senti o que era pobreza.


O velho Jatene veio do Líbano para o Brasil, atraído pelos seus seringais, chegando a Belém do Pará.


Logo estava em Xapuri, no Acre, local onde se produzia a melhor borracha do Brasil e do mundo para exportação e fabricação dos pneus dos aviões.


Sempre ia a Belém comprar necessidades para o pequeno comércio que lá instalou.


Nesse vai e vem conheceu uma conterrânea bem mais jovem e se casou para viver em Xapuri.


Teve filhos seguidos, vindo a falecer, deixando viúva e quatro filhos menores (Adib tinha apenas dois anos).


Viúva, bonita e muito jovem, decidiu que o objetivo da sua vida seria educar os filhos.


Ela abriu um pequeno comércio de secos e molhados e costurava para manter a casa e educar com muita dificuldade até o primário seus filhos, quando terminava o ensino em Xapuri.


Um tio, sabendo das dificuldades encontradas por ela na escolaridade dos seus filhos, a convidou para se mudar para Uberlândia, onde poderia ajudá-la.


Ela aceitou o convite, onde Adib Jatene concluiu o seu segundo grau e, para ajudar pagar as despesas, foi trabalhar como porteiro de uma escola cujo dono era cego.


Passava seu período de trabalho lendo os clássicos da literatura para seu patrão, quando foi despertado pelo gosto da leitura e aprendeu a fazer contas de cabeça, pois os cegos têm uma memorização fantástica.


Concluído o segundo grau foi para São Paulo fazer o difícil vestibular de medicina para a USP.


Sua mãe trabalhava como vendedora de roupas e costureira.


Quando terminou sua graduação em medicina, estudante brilhante, já era bem conhecido pelo professor Zerbini.


No 4º ano de medicina já era seu instrumentador, no 5º era segundo auxiliar com direito a cortar os fios cirúrgicos, e no 6º seu primeiro auxiliar.


Depois de formado retornou para exercer a sua profissão em Uberlândia, onde permaneceu por dois anos.


Foi então convidado pelo professor Zerbini para vir para o INCOR trabalhar com ele, e cuidar da oficina do hospital onde produziriam vários tipos de peças cardíacas como próteses e aparelhos para a circulação extracorpórea, aspiradores e valvas cardíacas.


Sua mãe e irmãos se mudaram definitivamente pra São Paulo, e ele tornou-se o principal assistente de Zerbini.


Trabalharam juntos no INCOR, criou uma série de técnicas operatórias e, como bom mecânico, tomou conta da oficina do INCOR, criando novos aparelhos e recuperando outros. 


Adib era um excelente torneiro mecânico e produzia equipamentos para não depender de ninguém.


Montou a sua própria equipe cirúrgica, sempre operando nos hospitais com o professor Zerbini.


Quando este foi obrigado a deixar a cátedra de Cirurgia Cardíaca e a direção do INCOR pela compulsória, o seu substituto natural seria Adib Jatene, mas, por não possuir cursos de pós-graduação, nem livre-docência, ele não poderia ser, embora tivesse publicado inúmeros trabalhos científicos.


Adib não era docente da escola de medicina da USP.


Zerbini não via ninguém na universidade com o perfil do acreano de Xapuri.


Com outros professores com doutorado, pressionaram e conseguiram da Congregação da Faculdade, presidido pelo professor Silvano Raia, o título de “notório saber”, com o qual Jatene pode competir e vencer o pleito para substituir o professor Zerbini no comando da cirurgia cardíaca no Brasil, e também diretor do INCOR.


Mais tarde recebeu o Título de Doutor Honoris Causa e Professor Emérito, conseguindo assim todos os títulos universitários de uma carreira docente.


Tive a felicidade de conhecer os dois, sendo que por duas vezes assisti cirurgias feitas por Zerbini.


Adib conheci de forma inusitada no meu gabinete, quando reitor (1978).


Ele foi participar de uma reunião com os médicos da região da Grande Cáceres, em Quatro Marcos.


Eu pedi ao Gabinete (não acreditava na sua presença), que o convidasse para uma palestra aos nossos professores, despertando neles a curiosidade pela medicina sanitarista.


Nós não tínhamos implantado ainda a nossa escola de medicina.


Jatene pretendia fazer medicina, estudar profundamente saúde pública e voltar para Xapuri.


Quis o destino e a sua competência que ele se tornasse um dos maiores cirurgiões cardíacos do mundo.


Gabriel Novis Neves

24-07-2022










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