domingo, 21 de agosto de 2022

SEMANA DE COMEMORAÇÕES


Quero focar esta semana de comemorações dos 128 anos de nascimento do meu pai e amigo Olyntho Neves, o patriarca da família Novis Neves, escrevendo para as futuras gerações momentos que vivi em sua companhia, sempre ao lado da minha mãe Irene Novis, para não deixar cair no esquecimento uma figura tão importante para nós.


A mais remota recordação que tenho do meu pai foi das únicas férias que tirou em 1940 para visitar a sua mãe, minha avó Eugênia, no Rio de Janeiro.


Ele foi acompanhado da minha mãe com 27 anos, eu com cinco, Yára com três e o Pedro com um, ainda uma criança de colo.


Lembro-me com nitidez do nosso embarque no cais do Porto do Rio Cuiabá, em manhã de chuva até o hidroavião que nos conduziríamos até a cidade de Corumbá, onde trocaríamos por um DC3 pinga - pinga até ao Rio de Janeiro.


Só me recordo do embarque, quando chorei muito, e do passeio em uma Praça do Lido, onde havia um parquinho com brinquedos para crianças, em Copacabana no Posto 2.


Em 1942 me lembro do meu pai inconsolável recebendo, por telegrama logo cedinho, a notícia do falecimento da sua mãe.


Nesse dia não abriu o Bar Moderno, mais conhecido como o Bar do Bugre, apelido do meu pai.


Meu pai usou luto fechado por uma ano, terno, camisa e gravata preta.


Eu, com sete anos ia para o primeiro ano da Escola Modelo Barão de Melgaço, com uma pequena fita preta presa no bolso do uniforme, indicando luto na família, chamado de fumo.


Meu pai gostava muito de brincar no dia 1º de abril.


Acordava cedo, tomava uma xícara de cafezinho forte e muito quente.


Ficava sentado na cadeira de balanço, aguardando a meninada acordar para ir à escola.


Assim que me aproximava dele, me contava a novidade: o leiteiro que vinha do Porto, havia lhe dito que a ponte Júlio Muller sobre o rio Cuiabá, inaugurada em 1942, ligando as cidades de Cuiabá e Várzea Grande, havia desabado.


Diante da minha perplexidade e uma bateria de perguntas a responder, exclamava com ar vitorioso: é peta, 1º de abril!


Dia universal da mentira, dizia com erudição!


Nós nunca comemoramos o Natal ou entrada do Ano Novo, com Ceias ou Jantares à meia noite, cheia de superstições.


O movimento nessas noites era muito forte no bar e ele tinha que ficar na máquina registradora, ajudando a atender aos fregueses.


Não fui criado com esse hábito de festejar o Natal e Ano Novo com festas em casa.


Escrevíamos cartas ao Papai Noel pedindo presentes e íamos dormir cedo para acordar e verificar os presentes debaixo da cama.


Sempre à meia-noite nessas datas meu pai telefonava para minha mãe, muitas vezes nos acordando para desejar-lhe felicidade.


Próximo à nossa casa ficava a Igreja Matriz, onde era realizada a Missa do Galo muito concorrida e celebrada por Dom Aquino Correa, com a dona Zulmira Canavarros no órgão, acompanhada da sua filha soprano Maria Canavarros.


Para o almoço do Natal e Ano Novo, papai trazia do bar uma garrafa do legítimo vinho branco Português Lágrima de Cristo.


A filharada foi aumentando, crescendo, mudamos da casinha da rua de Baixo, para o casarão da rua do Campo e o velho Bugre, se deu ao luxo de mandar estudar no Rio, com o sustento do seu bar os três filhos mais velhos, sendo que eu e Inon nos formamos médicos, e Pedro economista.


Olyntho advogado, Ylclea com pós-graduação em Pedagogia, Aracy em Serviço Social, todos graduados pela UFMT.


Yára, Antonieta Eugênia e Ana Beatriz com o segundo grau.


Todos os seus filhos são casados, curtiu noras, genros e netos e assistiu o seu primogênito implantar a Universidade Federal de Mato Grosso, em Cuiabá.


Morreu em casa cercado do carinho da sua imensa família e amigos em 18 de maio de 1982.


Obrigado pai!


Gabriel Novis Neves

20-08-2022






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