Um
grupo de alunos do último ano do ensino médio do Instituto Tecnológico de Mato
Grosso (ITMT) - a antiga Escola Técnica Federal - foi orientado pela professora
de História do Brasil a realizar um trabalho sobre a “Revolução de 1964 e seus
reflexos na Universidade Federal de Mato Grosso” (UFMT).
A
professora-doutora orientou no roteiro das perguntas e encaminhou os jovens
estudantes ao Curso de História da nossa UFMT, povoado de mestres, doutores e
pesquisadores, e com apoio de um Centro de Documentação Histórica com muitos
trabalhos científicos e livros publicados.
Após
perambularem por corredores e salas do qualificado Curso de História - onde
muito dos seus integrantes pertencem ao nosso Instituto Histórico - em busca de
um mestre para ajuda –los no trabalho gratuito para uma instituição pública de
ensino, tiveram a decepção de ouvirem dos seus futuros professores o veredicto
de que naquela instituição não existia ninguém que dominasse o assunto em
pauta.
Foram
unânimes em indicar um antigo médico professor aposentado da universidade como
a pessoa mais gabaritada para ajudá-los no trabalho acadêmico.
Decepcionados,
e com pouca esperança, telefonaram ao “escolhido” que, sabendo da “história”,
se prontificou a ser solidário com eles. Assim, eles vieram à minha casa.
Porém,
antes do trabalho ser iniciado, fiz duas colocações. Primeira: esclareci que
eles teriam o tempo que fosse necessário para as perguntas e que fazia questão
de ter todo o meu depoimento filmado e gravado com som. Segunda: gostaria de
saber a opinião deles sobre o fato de um médico ser indicado para substituir um
professor graduado em história para discorrer sobre o assunto do trabalho.
Minha
curiosidade quanto à segunda colocação, aliada a uma desagradável estranheza,
tem uma explicação. Não acredito que o famoso Curso de História não possua um
único professor-doutor para falar sobre o assunto solicitado. Por pura
acomodação dos professores foi indicado o nome, por unanimidade, de um médico -
já que pelas leis vigentes este não pode lecionar nem no curso de graduação e,
muito menos, frequentar os holerites dos historiadores.
Na
Academia, se isso acontecesse, seria um bom motivo para uma greve geral “por
melhor qualidade de ensino”.
Sem
jeito, os estudantes, que nunca tinham ouvido falar o meu nome, educadamente
disseram que seria, talvez, pela minha idade.
Mais
uma decepção para jovens. No curso de História existem em atividade professores
mais idosos que eu, sendo muitos deles meus contemporâneos.
Na
verdade, o único motivo para a recusa daqueles professores era o tema do
exercício acadêmico – “A revolução de 1964 e seus reflexos na UFMT”. Todos são
funcionários do governo instituído e queriam sair politicamente correto na
fotografia. A verdade histórica não lhes interessava.
O
fato histórico aconteceu, mas aqueles mestres negaram esclarecimentos aos
jovens alegando “falta de conhecimento” para interpretá-lo.
A
entrevista começou e terminou num clima muito bom. O interesse daqueles jovens
em adquirir conhecimento renovou minhas esperanças na juventude atual.
Entretanto,
ficou clara a falência do nosso ensino superior, onde interesses outros
desvirtuaram as raízes da nossa UFMT.
Isso
ocorre quando um centro de formação de gente se preocupa mais com obras físicas
do que com os cérebros e, assim sendo, a sua função principal está
interrompida.
Encerramos
horas de estudos com mútua satisfação. Eles, pelo prazer demonstrado pelo
conhecimento adquirido. Eu, pelas esperanças renovadas.
Espero,
sinceramente, que as portas para a aquisição do saber estejam sempre abertas
para os jovens com ânsia de aprender – única possibilidade de ascensão social
para muitos jovens.
Gabriel
Novis Neves
03-06-2014
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