Por
mais que me esforce não consigo trocar minhas coisas antigas por um novo modelo
só para seguir a moda.
Não
faz muitos anos as fraldas dos meus filhos eram lavadas, passadas, reutilizadas
e, as em boas condições guardadas para serem empregadas em uma nova
oportunidade.
Até
os lenços para o muco nasal tinham o mesmo destino. Naquela época nada se
jogava fora, e minha geração tinha dificuldade para praticar esse ato.
Como
herança deste hábito eu não consigo trocar de carro (o meu está com dez anos de
uso), assim como o antiquado aparelho de televisão.
Nem
falar em troca de celulares, que a geração atual muda a cada mês, muito menos
do meu computador, que tem configuração antiga para facilitar a minha memória
visual.
Aparelhos
eletrônicos para mim são "imexíveis". Para entender os mais modernos
preciso de aulas especiais, como é o caso das chaves dos automóveis atuais, que
não as têm.
Tenho
a mania dos velhos de guardar tudo, com a doce ilusão de um dia precisar de
alguma coisa, mesmo sendo fabricados para ser usada uma só vez.
Assim,
relógios enormes de parede, mesmo com defeitos insanáveis, vasilhas velhas,
muitas vezes furadas e até bacias de louça lascadas, não são desprezadas.
Em
casamento não tão longo, os jovens atuais já tiveram mais cozinhas dos que
havia em todo o meu bairro.
Isso
aconteceu na minha infância, que não foi no século XVIII.
Vivemos
o momento de “nada se arruma”, troca-se. Lembram-se dos sapateiros fazendo meia
sola em nossos sapatos colegiais?
Do
afiador de facas?
Caminhão
para recolher lixo era luxo de pouca utilidade naqueles saudáveis tempos onde
se respeitava a ecologia.
Só
o que era descartável eram produtos orgânicos. Esses iam fazer a alegria dos habitantes do quintal: galinhas,
galos, pintinhos, patos, porcos, gatos, cachorros etc.
Nessa
época não existia o plástico nem o nylon. A borracha nós só víamos nas rodas
dos automóveis.
Eu
venho desse tempo. Fui orientado para “guardar e guardar”, que um dia poderá
servir para alguma coisa.
Minha
cabeça não resiste a nova ordem – “compre e jogue fora que já vem um novo
modelo superior ao que você usa”.
Entretanto,
fui educado para viver com o mesmo nome e a mesma mulher.
Casamento
ainda é modelo medieval. O ritual não mudou, assim como o vestido da noiva que
era o mesmo daquele usado pela minha bisavó. Nada ali era descartável.
Difícil
para alguém que guarda até umbigo dos seus filhos, o primeiro dentinho de
leite, a primeira fralda usada, cadernos do jardim da infância, contemplar o
descarte de tudo. Do casamento, amizade, valores morais e bens materiais.
Será
que quando as coisas são conseguidas facilmente elas se tornam descartáveis com
a mesma velocidade com que foram conseguidas?
O
pior é o descarte de pessoas que um dia nos foram imprescindível. Esse é um
fato muito frequente nos dias atuais, passando despercebido aos jovens e maltratando
os idosos.
Sou
lento para transitar neste mundo de reposições.
Gabriel
Novis Neves
12-07-2014
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