quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Mundo descartável

Por mais que me esforce não consigo trocar minhas coisas antigas por um novo modelo só para seguir a moda.
Não faz muitos anos as fraldas dos meus filhos eram lavadas, passadas, reutilizadas e, as em boas condições guardadas para serem empregadas em uma nova oportunidade.
Até os lenços para o muco nasal tinham o mesmo destino. Naquela época nada se jogava fora, e minha geração tinha dificuldade para praticar esse ato.
Como herança deste hábito eu não consigo trocar de carro (o meu está com dez anos de uso), assim como o antiquado aparelho de televisão.
Nem falar em troca de celulares, que a geração atual muda a cada mês, muito menos do meu computador, que tem configuração antiga para facilitar a minha memória visual.
Aparelhos eletrônicos para mim são "imexíveis". Para entender os mais modernos preciso de aulas especiais, como é o caso das chaves dos automóveis atuais, que não as têm.
Tenho a mania dos velhos de guardar tudo, com a doce ilusão de um dia precisar de alguma coisa, mesmo sendo fabricados para ser usada uma só vez.
Assim, relógios enormes de parede, mesmo com defeitos insanáveis, vasilhas velhas, muitas vezes furadas e até bacias de louça lascadas, não são desprezadas.
Em casamento não tão longo, os jovens atuais já tiveram mais cozinhas dos que havia em todo o meu bairro.
Isso aconteceu na minha infância, que não foi no século XVIII.
Vivemos o momento de “nada se arruma”, troca-se. Lembram-se dos sapateiros fazendo meia sola em nossos sapatos colegiais?
Do afiador de facas?
Caminhão para recolher lixo era luxo de pouca utilidade naqueles saudáveis tempos onde se respeitava a ecologia.
Só o que era descartável eram produtos orgânicos. Esses iam fazer a  alegria dos habitantes do quintal: galinhas, galos, pintinhos, patos, porcos, gatos, cachorros etc.
Nessa época não existia o plástico nem o nylon. A borracha nós só víamos nas rodas dos automóveis.
Eu venho desse tempo. Fui orientado para “guardar e guardar”, que um dia poderá servir para alguma coisa.
Minha cabeça não resiste a nova ordem – “compre e jogue fora que já vem um novo modelo superior ao que você usa”.
Entretanto, fui educado para viver com o mesmo nome e a mesma mulher.
Casamento ainda é modelo medieval. O ritual não mudou, assim como o vestido da noiva que era o mesmo daquele usado pela minha bisavó. Nada ali era descartável.
Difícil para alguém que guarda até umbigo dos seus filhos, o primeiro dentinho de leite, a primeira fralda usada, cadernos do jardim da infância, contemplar o descarte de tudo. Do casamento, amizade, valores morais e bens materiais.
Será que quando as coisas são conseguidas facilmente elas se tornam descartáveis com a mesma velocidade com que foram conseguidas?
O pior é o descarte de pessoas que um dia nos foram imprescindível. Esse é um fato muito frequente nos dias atuais, passando despercebido aos jovens e maltratando os idosos.
Sou lento para transitar neste mundo de reposições.

Gabriel Novis Neves
12-07-2014

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