Somos
condicionados por inumeráveis regras sociais e religiosas a acreditar que o ato
de sofrer é uma consequência imediata do ato de viver.
Muitas
vezes, os sofrimentos físicos e os emocionais se confundem, impedindo a sua
separação.
Estudos
médicos recentes vêm cada dia mais atribuindo doenças ao efeito deletério de
algumas enzimas produzidas pelo nosso organismo durante estados de ansiedade,
de crises depressivas e de períodos de estresse prolongados.
Nessas
circunstâncias fabricamos as chamadas catecolaminas, além do cortisol fabricado
pelas glândulas suprarrenais, ambos extremamente prejudiciais ao nosso viver.
Ao
contrário, pessoas otimistas, possuidoras de uma atitude positiva diante da
vida, liberam as chamadas endorfinas, que funcionam com verdadeiras pílulas do
prazer.
Sempre
que nos desmotivamos da vida, temos uma queda do tônus cortical, e, dessa
forma, ficamos mais suscetíveis a todos os tipos de enfermidade.
Vírus
e bactérias com as quais convivemos normalmente tornam-se agressivas quando
isso acontece.
Atualmente,
doenças degenerativas, inclusive o câncer e as doenças autoimunes, já são, na
maioria das vezes, consideradas decorrências de distúrbios emocionais graves.
Pessoas
mais saudáveis são sempre portadoras de um bom sistema nervoso que não seja
submetido a grandes ambivalências.
Desde
muito cedo somos condicionados, paulatinamente, a responder a todos os reflexos
que nos são impostos, sejam eles patológicos ou não.
Como
as sociedades, de um modo geral, são regidas por regras incompatíveis com os
nossos instintos básicos animais, com o tempo vamos tornando-nos mais ou menos
reprimidos e doentes, tudo dependendo do caldo cultural repressor onde fomos
criados.
Isso
se reflete mais tarde, já na fase adulta, em dificuldades orgânicas básicas,
seja na ingestão abusiva de alimentos, seja nos distúrbios da evacuação, da
micção e, principalmente, nas graves disfunções sexuais, tão comuns na prática
médica.
Crianças
são submetidas desde muito cedo a tarefas para as quais elas não estão
preparadas impedindo, dessa forma, o ócio criativo, fundamental ao seu pleno
desenvolvimento.
Não
são respeitadas as leis da natureza que permitem que os filhotes se desenvolvam
lentamente sem o acúmulo de tarefas que lhe são impostas sucessivamente, tais
como: aulas de natação, de música, de judô, idiomas, enfim, a total castração
da criança em termos fisiológicos.
Impedimos
dessa maneira que as nossas crianças vivam a idade do descompromisso que, na
maioria das vezes, nem na velhice é conseguida.
Quando
se percebe, desponta aquele adolescente revoltado, agressivo, subvertendo todos
os conceitos arcaicos que lhe foram impostos pela hipocrisia social.
Resultado:
incompreensão dos pais que, ingenuamente se julgam injustiçados, pois tentaram
“fazer o melhor”.
Isso
vai sendo passado de geração a geração, já que papos honestos e verdadeiros
sobre todos os temas nunca são discutidos nos meios familiares e, muito menos,
nos escolares.
O
sistema sinaliza para que todos os bens sucedidos devam ser preparados para “o
ter”, e não, para “o ser”.
Nessa
armadilha se esvai a felicidade, pelo simples fato de se formarem adultos
hipócritas e reprimidos e que não conseguem compactuar emoções.
De
tudo isso, só se conclui que “o sofrer” está muito ligado ao aprendizado de
cada um. Quanto mais reprimido o indivíduo, maior a qualidade e a intensidade
do seu sofrimento.
Reconheço
que para nós médicos, é bem mais fácil lidar com essas filigranas emocionais,
razão pela qual, até bem pouco tempo, antes da sociedade de consumo, médicos, e
terapeutas eram bem mais valorizados.
Com
a pressa do mundo atual, trocamos todos esses valores pelo imediatismo das
relações em todos os níveis, infelizmente.
Triste
imaginar que tantas pessoas que conviveram toda uma vida são meros
desconhecidos, sem a real intimidade que deve ser fundamental ao amor.
Na
mentira e na hipocrisia não se chega a lugar algum. Transformamos-nos num bando
de almas penadas, cada dia mais solitário, ainda que acompanhadas...
Gabriel
Novis Neves
14-12-2014
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