Esgotados
os modelos familiares vigentes durante séculos e séculos, urge uma mudança
nesse tipo de conglomerado, o que, aliás, já vem acontecendo paulatinamente.
Na
minha prática médica ao longo de todos esses anos tenho constatado os inúmeros
dramas oriundos dessa organização arcaica.
A
velha companheira, apenas reprodutora, se transformou numa força de trabalho
ativa e, portanto, fundamental para a economia do grupo.
Com
as mudanças econômicas vieram as alterações comportamentais. Novos modelos se
impõem para que os vários membros de um mesmo clã não adoeçam entre si, como
vem acontecendo nos últimos anos.
Com
o aparecimento de novas tecnologias facilitadoras dos trabalhos caseiros, a
liberdade pessoal feminina tem se tornado uma meta. Mulheres não mais se
conformam com ausência de tempo para si mesmas, impossível até poucos anos
atrás.
Já
percebemos esses profundos sinais de mudanças nos países mais desenvolvidos, em
que os filhos são intimados a prover o seu próprio sustento a partir dos
dezoito anos e, portanto, abandonar o teto familiar.
Nada
mais saudável e promissor, ainda que para nós, subdesenvolvidos, nos pareça um
ato de desamor.
As
interdependências familiares são altamente adoecedoras para todos os seus
membros, chegando, algumas vezes, a níveis insuportáveis, apenas disfarçados
pelas hipocrisias que as circunstâncias exigem.
Pais
subjugando filhos na sua juventude e sendo por eles subjugados na velhice, é o
quadro mais frequente.
Sob
a capa da proteção, em ambos os casos, se estabelece a mais cruel das relações,
sempre baseada em mentiras e desamor.
É
como se podada fosse qualquer iniciativa de autodirecionamento, e o ódio
subliminar que daí advém, vai se acumulando através dos anos, tudo no mais
profundo disfarce da compreensão.
Dessa
forma, festas tradicionais que exacerbam os valores familiares, como o Natal e
o Réveillon, com muita frequência redundam em espetáculos desastrosos,
normalmente liberados graças à exclusão da censura promovida pela ingestão de
bebidas alcoólicas.
Que
as pessoas passem a entender e a respeitar a individualidade de cada um.
Que
os idosos não se transformem em perspectivas de novos ganhos após o seu
desaparecimento e que lhes seja permitido, e até mesmo, incentivado, a usufruir
do justo fruto de seu trabalho na plena satisfação dos seus desejos. O que mata
é infelicidade e tédio, e não, prazer.
Que
a família passe a funcionar como seres que se amam e se protegem mutuamente,
sem cobranças de qualquer espécie.
Que
o respeito ao outro e às suas escolhas seja o moto propulsor para a felicidade
de todos.
Que
as pessoas se encontrem por puro prazer de estarem juntas, e não por regras
comportamentais pré-estabelecidas, tais como almoços dominicais enfadonhos e
obrigatórios, principalmente quando envolvem terceiros nesses compromissos.
Enfim,
que cada um tenha presente que o ser humano foi feito para ser feliz do jeito
que der e quer, mesmo que não corresponda às metas, ditas de sucesso, que são
traçadas para ele.
Quem
sabe assim não teremos um dia grupos familiares verdadeiramente felizes?
Gabriel
Novis Neves
08-01-2014
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