Se
já não bastasse todo o descaso das autoridades que transformou o Rio de Janeiro
numa das cidades mais violentas do mundo, agora essa pecha internacional de
rebaixamento como bom pagador, era justo o que nos faltava!
A
tradução ao pé da letra é bastante pesada - somos o “lixo para o investimento
de capital estrangeiro”.
Essas
firmas para avaliação de risco surgiram como um tipo de pressão na economia de
mercado, bem mais sutil e menos apavorante se comparada a dos anos 60.
Naqueles
anos, “marines” eram colocados nas costas brasileiras caso não andássemos como
mandava o figurino das grandes potências internacionais.
Sinal
dos tempos! Ficamos todos como crianças de escola à mercê dos castigos que nos
serão impostos em virtude do nosso boletim deficitário.
Enquanto
isso, os nossos dirigentes, umbigados nos seus próprios privilégios, só fazem
deteriorar cada vez mais rapidamente a grande crise político-econômica em que
nos meteram.
Nessa
minha última estada no Rio fiquei impressionado com o grande número de lojas
comerciais fechadas, inclusive, nos bairros mais nobres como Copacabana,
Ipanema e Leblon.
A
falta de movimento nas casas noturnas e bares elegantes, aptos para atender aos
gostos mais requintados, é absolutamente assustador.
Num
deles, um dos mais em voga, apenas três pessoas compunham o cenário da casa: eu
e mais dois amigos. Coisa de dar pânico numa quinta-feira, considerada,
recentemente, a noite mais borbulhante de Ipanema.
Mas,
parece que, além-muros, nada disso afeta o governo, que continua dando aumentos
exorbitantes para as castas privilegiadas, mantendo suas viagens megalomaníacas
recheadas de convidados em hotéis do mais alto nível, seus trinta e um
ministérios, seus cento e vinte mil cargos comissionados, enfim, tudo indica
que a orgia com os cofres públicos continua a todo vapor.
Afinal,
o que será que se passa na cabeça dessas senhoras e senhores que pertencem a
esse verdadeiro reinado? Será que não conseguem se tocar com essa imensa
insônia que tomou conta de todos os habitantes dessa nação, do mais humilde, já
à míngua, até aos poderosos, assustados com a possível perda repentina de suas
benesses?
A
falta de pudor social é patente, e os desvios estratosféricos do erário público
são temas proibidos em qualquer avaliação dos desmandos sucessivos.
Como
conseguir assistir pacificamente a derrocada de um país rico como o nosso? A
sétima economia do mundo?
A
exaurida sociedade civil já pouco se manifesta.
Nada
nos interessa e, tal como o menininho sírio encontrado emborcado numa praia da
Turquia, aguardamos inertes a ruína final.
Os
imigrantes dos países devastados pela guerra e pela fome, mesmo diante da
possibilidade da morte, lutam desesperadamente por um mundo melhor.
E
nós, náufragos em potencial, tornamo-nos todos apáticos e deprimidos, incapazes
de uma ação rápida que nos tire desse pesadelo de um país sem rumo.
Onde
estão os jovens, os estudantes, os artistas, todos com grande capacidade de
mobilização e que em movimentos de protestos passados de nossa história se
mostraram tão atuantes?
O
que me passa é que estamos todos comatosos, incapazes de qualquer reação,
apenas aguardando que a mãe natureza nos indique a redenção.
Gabriel
Novis Neves
05-10-2015
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