Laurentino
Gomes resgata, em palestra, origens da mistura de público e privado na nossa
cultura política. Tentarei fazer um resumo das raízes da corrupção em nosso
país.
Quando
Dom João VI chegou ao Rio de Janeiro em 1808, recebeu de “presente” para morar
uma casa na Quinta da Boa Vista, a melhor da cidade.
O
doador foi um traficante de escravos que adquiriu a condição de “melhor amigo
do rei”. Como consequência, participou de todos os privilégios da Corte e
rapidamente ganhou muito dinheiro, além de títulos de nobreza.
Traficantes
de escravos, fazendeiros e senhores de engenho, criaram o regime do “toma lá,
dá cá” com o rei, que aqui chegou praticamente falido.
No
Brasil colônia, os negócios públicos e privados já se confundiam, mas, com a
vinda da corte portuguesa foi instaurada a “caixinha” – com parte do dinheiro
desviado – e a distribuição de títulos de nobreza.
D.
João VI, em oito anos de Brasil, distribuiu mais títulos de nobreza do que em
setecentos anos de monarquia.
O
historiador, e meu Reitor Pedro Calmon, uma vez disse que “para ganhar título
de nobreza em Portugal eram necessários quinhentos anos, mas, no Brasil
bastavam quinhentos contos de réis”.
Ditados
populares criticavam a condução dos negócios públicos. Um deles dizia: “Quem
rouba pouco é ladrão, quem rouba muito é barão e quem rouba mais e esconde,
passa de barão a visconde”.
O
excesso de burocratização do país era para corromper os mais pobres.
Viajantes
compravam ouro dos “espertos” brasileiros, que era misturado com pó e
contrabandeavam pedras preciosas escondidas dentro das imagens da Igreja
Católica para não pagar os altos impostos.
Entretanto,
a grande corrupção ficava mesmo por conta de Dom Pedro I, jocosamente chamado
de “Caríssimo”, não por ser um prezado monarca, mas numa referência às enormes
verbas que a Casa Imperial consumia dos cofres públicos.
Associada
a D. Pedro I, Domitila de Castro, a Marquesa de Santos, comandava um poderoso
tráfico de influência.
A
Casa Imperial de D. Pedro II também tinha grandes verbas para o chamado
“Bolsinho do Imperador”.
Pero
Vaz de Caminha ao chegar ao Brasil escreveu uma carta ao rei de Portugal, D.
Manuel III, e, no final, pede um emprego público para um dos seus sobrinhos,
inaugurando assim o nepotismo nesta terra.
Tomé
de Souza, que foi o primeiro governador-geral do Brasil, foi um grande tocador
de obras e, pode-se dizer que inaugurou o estilo “rouba, mas faz”, pois há
provas de desvios de recursos já nessa época.
A
corrupção é uma das características do comportamento humano.
Outras
sociedades colonizadas por países como Holanda, Inglaterra e França, têm
resultados equivalentes nesses aspectos, respeitadas obviamente as
particularidades culturais de cada um.
Desde
a época da colônia o país vem sendo construído de cima para baixo, sem que a
grande maioria da população seja sequer consultada.
Como
consequência, hoje o Brasil é um país messiânico, à procura de salvadores da
pátria.
Fomos
habituados desde sempre a não participar das atividades político-partidárias,
já que contamos sempre com o paternalismo do Estado.
Nesse
passeio histórico, o mais grave é verificar a falta de prioridade, desde o
descobrimento do Brasil, para com a educação.
É
bom não esquecer que, quando a corte portuguesa chegou ao Rio de Janeiro, cerca
de 90% dos brasileiros eram analfabetos.
Nessa
época, a América Espanhola já contava com vinte e duas universidades, enquanto
nós aqui na terrinha não possuíamos nenhuma.
Quando
entrei na Faculdade Nacional de Medicina, em 1955, o índice de analfabetos
ainda era de 50%.
O
Brasil nunca teve interesse em formar cidadãos cônscios da sua necessária
participação nos processos de construção, respeito às leis e à distribuição de
rendas.
Nesse
contexto, a operação Lava Jato explica tudo, para surpresa de poucos.
Gabriel
Novis Neves
10-09-2015
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