Se
viva estivesse estaria completando no dia 31 de julho cinquenta e um anos.
Infelizmente
partiu deste Planeta muito precocemente, sem ao menos saber do papel que o seu
sacrifício desempenhou na minha vida.
Vítima
de politraumatismo ao se chocar violentamente contra o guarda roupa do meu
dormitório, não resistiu ao sofrimento.
Foi
ela a responsável pela minha permanência definitiva na cidade natal – Cuiabá.
Aqui
nasceram meus três filhos e seis netos. Aqui também descansa minha mulher, há
nove anos, no Cemitério da Piedade.
As
oportunidades e desafios que me foram ofertadas, e jamais rejeitadas, por
questão até de sobrevivência, tentei da melhor maneira possível aproveitá-las,
trabalhando em benefício da sociedade.
O
sacrifício da minha barata voadora fez com que desaparecesse de Cuiabá o
preconceituoso e desumano “Hospital Colônia de Alienados do Coxipó da Ponte”,
surgindo em seu lugar o Hospital Adauto Botelho, modelo na época.
A
partir do “hospital dos loucos” cheguei à Secretaria de Educação do Estado,
quando inseminei as sementes das duas futuras universidades federais (Cuiabá e
Campo Grande).
O
ensino fundamental e médio passou por grandes transformações, com a
qualificação dos professores e a criação e funcionamento dos “Ginásios
Orientados para o Trabalho”.
Depois,
foram onze anos implantando no cerrado do Coxipó o orgulho de uma geração e a
admiração e gratidão de todos - “A Cidade Universitária”, com seus professores
e servidores valorizados, cursos voltados ao desenvolvimento regional e guardiã
da nossa cultura e tradições.
Outras
tarefas desempenhei por seis secretarias de Estado, sempre trazendo inovações
tecnológicas.
A
implantação do primeiro curso de Medicina em universidade privada no Estado,
com Hospital Universitário próprio e Residência Médica, foram complementadas
pela fundação e pela honra de ser o primeiro Presidente da Academia de Medicina
de Mato Grosso.
No
mês da barata voadora a Academia Nacional de Escritores Médicos me convidou
para ocupar a Cadeira nº 28 como Acadêmico Titular. Convite aceito.
A
indicação foi feita a minha revelia, por colegas de turma de medicina de 1960
da Faculdade de Medicina da Praia Vermelha (hoje UFRJ).
Para
quem não conhece o porquê da minha homenagem à barata voadora, recomendo a
leitura de um antigo artigo que escrevi há alguns anos – “A Barata Voadora”,
facilmente encontrado no Google.
Nele
conto que, se não fosse a firme decisão da minha mulher tomada no dia do nosso
retorno à Cuiabá para início das minhas atividades profissionais como médico
generalista, este artigo hoje não estaria sendo escrito, e nada do relatado teria
tido a minha participação.
Foi
a decisão de permanecer nesta cidade, mesmo diante do pavor impensável do
choque do corpo da barata no guarda roupa, com o tremendo ruído produzido na
escuridão e o silêncio da madrugada, o responsável pelo resgate deste ponto
luminoso.
O
outro lado fica o sempre mistério do “se”.
“Se” eu tivesse voltado para o Rio de Janeiro diante do pânico da minha
companheira, o que teria acontecido em minha vida?
Não
há como se esquecer desta data - 31/07/1964!
Obrigado,
minha barata voadora!
Gabriel
Novis Neves
06-09-2015
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