Sinto
que ando meio intoxicado com toda essa encenação social que somos obrigados a
fazer durante a vida a fim de que sejamos aceitos como seres normais.
Ela
acaba se estendendo para todos os níveis, seja o econômico, o político, o das
amizades - nem sempre tão amigas.
Vamos
tornando-nos verdadeiros autômatos na arte da convivência, na maioria das vezes
frios, cínicos e hipócritas.
Qualquer
um de nós tem a percepção exata desse tipo de pessoa que nos cerca nos mais
diversos ambientes.
A
coisa vai se tornando generalizada até que, num determinado momento, não mais
sabemos quem somos nem o que verdadeiramente pensamos.
Daí
para a baixa autoestima e a sensação de falta de identidade, é apenas um passo.
Mas,
como tudo que não é verdadeiro acaba tendo o seu ponto de saturação, surge o
desequilíbrio entre o psíquico e o somático.
Finalmente
aprendemos que o nosso corpo dá gritos de alerta antes de adoecer. É a chamada
fase funcional da doença
Fazendo
parte de todo esse aprendizado mentiroso, a nossa cultura costuma desprezar
esses sinais, uma vez que nossos questionamentos comportamentais e dos
circunstantes, nunca devem ser levados em conta na fabricação de doenças.
Felizmente,
esses conceitos estão sendo revistos, mas ainda me lembro de que na época de
estudante a medicina psicossomática era totalmente rechaçada.
No
fundo, adoecemos para impedir a nossa loucura, loucura no sentido da
dificuldade de vivenciar as nossas ambivalências.
Isso
é o que nos diferencia dos bichos que, além de não modificarem a natureza,
quando livres, nascem, vivem e morrem.
Quando
domesticados, atrelados às nossas leis e distorções sociais, também se tornam,
tal como nós, diabéticos, neuróticos, obesos, artríticos, cancerosos.
Imagino
que apenas na velhice, quando perdemos a nossa grande utilidade como máquina de
gerar lucros, consigamos ter esse insight de quantos anos se perderam durante
todo esse teatro de vida e, o que é mais grave, de quantas doenças poderíamos
ter nos livrado se não tivéssemos sido obrigados a engolir tantos sapos.
Sim,
porque, num determinado momento, eles serão expelidos através da somatização
por algum de nossos órgãos de choque.
Quem
trabalha em gastroenterologia sabe bem do que estou falando ao tratar de
gastrites, colites, úlceras gastrointestinais e, até, de patologias bem mais
graves.
Ando
preferindo pertencer ao grupo dos chamados egoístas, que apenas dizem e fazem o
que querem, mantendo profundo desprezo
pelas condutas condizentes com os códigos sociais preestabelecidos.
Estes,
pelo menos, são pessoas bem mais saudáveis, e que pouco ou nada se agridem.
Gabriel
Novis Neves
18-10-2015
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