A
rica e próspera indústria pornográfica não raro vende os seus produtos como
eróticos, o que nem sempre é verdade.
O
erotismo está sempre envolto por muita criatividade e delicadeza, enquanto que
a pornografia é grosseira e, com frequência, agressiva.
A
percepção desse pequeno limiar entre uma e outra é o que distingue as pessoas
mais ou menos requintadas na sua sensibilidade.
Plagiando
Arnaldo Jabor com as suas considerações entre sexo e amor: A pornografia seria
a prosa e o erotismo a poesia.
“A
Casa dos Budas Ditosos” é um livro do falecido escritor João Ubaldo Ribeiro.
Foi publicado em 1999 e faz parte da série “Plenos Pecados”. Tem a luxúria como
o pecado-tema.
Foi
adaptado para o teatro em forma de monólogo - a primeira vez em 2004 e depois
em 2015. Encenado pela atriz Fernanda Torres em ambas as apresentações.
O
primeiro espetáculo causou muito mais impacto que o segundo, como era de se
esperar.
São
relatos de uma sessentona que resolve contar suas experiências sexuais vividas
durante a revolução sexual dos anos sessenta.
Era
muito difícil, após gerações e gerações de repressão, enfrentar aquela nova
mulher que tudo queria e que tudo podia.
Na
época, a obra foi considerada pornográfica e, após todos esses anos, tornou-se
interessante apenas pelo trabalho da atriz, considerado excelente.
Os
tempos mudaram, mas, ao que pude constatar através da reação da plateia, é que
a repressão continua muito forte.
Risos
histéricos e desconfortáveis diante da sexualidade do momento, aberta para
todas as suas formas, não me pareceram condizentes com uma sociedade em que as
mídias incentivam até o poliamor como forma melhor de relacionamento.
Pessoas
que viveram o deslumbramento da ausência da repressão sexual, excessiva até
então, experimentaram a total quebra de todos os limites, apelando, inclusive,
para o uso de todos os tipos de drogas
do momento.
Muitos
não conseguiram reverter esse quadro e se perderam na procura do êxtase perene.
Enfim,
a cabeça das pessoas continua reprimida quando o assunto é sexo, ainda sem
conseguir distinguir bem o sexo exuberante, praticado sem culpa, da pornografia
agressiva, como se diabólica fosse.
Que
o João Ubaldo em 1999 tenha sido tumultuado pelo tema, dá para entender, mas,
passados quase vinte anos, em que todos os conceitos estabelecidos foram
tragados pela modernidade, inclusive, com o aparecimento do amor na era da
tecnologia, causa-me espanto essa reação histérica da plateia, mais do que a
peça em si.
Gabriel
Novis Neves
06-09-2015
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.