Nos
bancos escolares do ensino básico somos obrigados a escrever as tarefas de
casa. Na Faculdade de Medicina aprendemos a escrever anamneses, que são a
história dos pacientes.
A
queixa principal sempre é o título do artigo. A investigação científica dos
sinais e sintomas compõe o conteúdo da matéria, no caso, as informações para o
diagnóstico da doença, causa da vinda dos pacientes ao consultório.
Sempre
desconfiei que todo médico, por ofício, é um escritor em potencial.
Pelos
anos de exercício de profissão, esses textos vão sendo aprimorados e cada um
desenvolve a sua técnica de passar suas perguntas técnicas ao papel.
Esses
escritos são confidenciais e só por ordem judicial podem ser revelados.
Publicar
anamneses em revistas e jornais, nem pensar!
Pois
bem, alguns psiquiatras especialistas em análise recomendam, para auxiliar na
cura da autoestima perdida, a publicação de textos livres escritos pelos seus
clientes, uma espécie de catarse dos seus sofrimentos.
É
um remédio amargo expor seus conceitos e opiniões ao domínio público para quem
não é profissional em comunicação.
Como
é para recuperar a saúde perdida, com muito esforço alguns “heróis” aceitam
essa terapêutica.
Os
primeiros artigos publicados causam um constrangimento pior que a autoestima
perdida.
Adquirido
o hábito de escrever e publicar os textos e metabolizar o julgamento dos
leitores, o “paciente” torna-se outra pessoa.
Sente-se
útil servindo de ponte entre semelhantes, e o ato de escrever passa a ser uma
necessidade.
Quem
escreve modifica a sua própria vida e, às vezes, a de outros.
Aprendi
com a jornalista Valéria del Cueto a colocar no papel, sem nenhuma lógica, tudo
que vem à cabeça.
Nessa
fase quanto menos se pensar melhor - diz a minha professora da “Ponta do Leme”.
A
fase seguinte é tentar ordenar aquele lixo em texto final.
Sempre
foi assim, sendo que a única coisa no mundo moderno que mudou foi a velocidade
da informação.
O
ato de escrever, porém, produz uma coisa maior na nossa alma, que é a paz.
Gabriel
Novis Neves
24-10-2015
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