terça-feira, 2 de maio de 2023

TRAGÉDIA INESQUECÍVEL


O ano da tragédia não me recordo.


Foi em um domingo antes de viajar para concluir os meus estudos no Rio de Janeiro.


Tinha acabado de assistir à missa das nove horas na Catedral e ao catecismo.


O Vigário Geral tinha nos liberados para o jogo de futebol em um campinho que ficava em um espaço coberto de telhas de argilas atrás do prédio do Palácio da Instrução.


Nossa entrada era pulando um muro com pouca altura entre a lateral da Catedral e os fundos do Palácio da Instrução.


Durante a semana era usado para aulas de educação física das alunas, com as suas professoras May do Couto e Ady de Matos.


Nesse domingo jogava futebol entre nós, Manuelito Granja, apelidado de Luís Borracha em homenagem ao excelente goleiro do Flamengo.


Ney Picolé, apelido de Ney Pinheiro, filho do dono do bar Jardim.


Herman Pimenta, Choné, Chonezinho, eu de beque por causa da altura (espigão), outros cujos nomes já esqueci, e o futuro craque mato-grossense, carioca, pernambucano e seleção brasileira – Traçaia.


Fazia de tudo para jogar sempre do lado do Traçaia, mas, nesse domingo fatídico, perdi no “par ou ímpar”, e fui encarregado de marcá-lo.


Missão impossível!


Desde criança tinha reflexos diferenciados, muita velocidade e facilidade de driblar, com chutes certeiros e violentos.


A partida não tinha árbitro, pois era uma temeridade essa função, pela agressividade dos “atletas “e falta de regulamento. “


Estávamos jogando quando alguém gritou: “fogo” - e a partida terminou.


A vitória fácil ficou com o lado que o Traçaia jogou, como sempre.


A grossa fumaça escura vinha em direção ao Palácio da Instrução.


Em um piscar de olhos a gurizada toda estava na Praça da República, pois nunca tínhamos vistos incêndios, que parecia ter a sua origem bem próxima ao lugar de onde nos encontrávamos.


Caminhamos pela rua de Baixo até a Casa Eufrosina, onde policiais militares, fizeram com uma corda um isolamento para que ninguém prosseguisse.


A meninada vendo as labaredas, sentindo o aquecimento do local, e ouvindo ruídos de paredes caindo, em desabalada correria foi para sua casa.


Encontrei o meu pai na porta da minha casa na rua do Campo, e pela primeira e última vez ele me repreendeu.


“Que loucura foi essa de chegar próximo a uma velha igreja da fundação de Cuiabá construída de terra batida com suas paredes caindo? “ Ele falou.


O incêndio iniciou num deposito de gasolina do armazém do “seo” Nelson, que era um prédio antigo, pai dos queridíssimos Vadô e Nelsa, filhos de dona Rosinha.


Na época Cuiabá não possuía um caminhão sequer do Corpo de Bombeiros, e o incêndio terminou pela retirada de água do Córrego da Prainha e jogada nas paredes da igreja para refrescar e no depósito de gasolina.


Não houve vítimas fatais, e durante três dias a população de Cuiabá passou rezando em frente à igreja.


Graças ao trabalho do Padre Wanir Delfino Cézar a Igreja do Senhor dos Passos voltou a atender aos fiéis.


Gabriel Novis Neves

27-04-2023


Foto do acervo de Francisco Chagas Rocha
<https://www.facebook.com/groups/783367495574599/permalink/784363942141621/

Foto do acervo de Vera Carvalho <https://m.facebook.com/groups/Cuiabanos/permalink/1906409959577254





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