Ela mora no bairro Dr. Fábio, bem distante do centro da cidade, sede do Palácio da Prefeitura na Praça Alencastro.
Com muita dificuldade conseguiu comprar uma motocicleta para se deslocar até ao serviço e faculdade particular, que era paga.
Entrou no FIES, programa do governo federal, e até hoje já formada, ainda paga prestações mensais à Caixa Econômica Federal.
Trabalhava o dia todo, e quando saía da faculdade ainda dava plantões noturnos, só possíveis de serem cumpridos graças à sua pequena e frágil motocicleta.
Terminado a faculdade veio trabalhar comigo e é a “chefe das minhas cuidadoras, “todas moradoras no mesmo bairro.
Hoje possui um pequeno carro novo automático, e o tempo que leva da minha casa até a dela, com trânsito normal, é de cinquenta minutos.
O bairro Dr. Fábio recebeu esse nome em homenagem ao primeiro cardiologista de Cuiabá, que morreu cedo.
Possuía uma fazenda que depois da sua morte foi invadida por grileiros.
Depois a Prefeitura distribuiu os títulos.
É um bairro populoso seus moradores são trabalhadores que em sua maioria circulam e prestam serviços em Cuiabá.
Sua “capital” é o CPA (grande bairro da região), com serviços e comércio completo.
O assunto que eu conversava com ela era como é a vida nessa comunidade.
Ela me disse que havia solidariedade entre seus moradores e eles se ajudavam entre si, inclusive emprestando pequena quantidade de dinheiro sem juros e correção monetária.
Ajudam no transporte, alimentação, medicamentos e suas famílias são amigas e solidarias.
O bairro é considerado calmo, praticamente sem ocorrências policiais.
Comparei com a Cuiabá de hoje, onde predomina a violência de todas as formas possíveis.
Assassinatos os mais incompreensíveis, não respeitando idade, sexo e cor.
Estupros.
Roubos.
Assaltos.
Trombadinhas.
Bandidos caminhando pela cidade, com tornozeleiras eletrônicas.
Comandos criminosos atuando livremente, controlando o comércio de drogas, redes de prostituição, comércio ilegal de minérios de valor e armas.
Quem pode e tem dinheiro anda com seguranças e carros blindados, e a maioria das pessoas tem medo de sair de casa.
Seus moradores preferem ficar reclusos nos espigões de concreto.
Cheguei à conclusão que muitos já chegaram:
O simples crescimento econômico sem desenvolvimento social cria desigualdade social, geradora da violência.
Para o jovem que está iniciando a sua carreira profissional, tendo que trabalhar em vários locais da cidade, em contato com todas as camadas sociais, é uma injustiça muito grande o que o crescimento econômico faz.
Vou procurar um bairro bem distante da cidade, como a minha enfermeira e cuidadoras, para viver em paz em que cada morador cuida do outro.
Gabriel Novis Neves
01-05-2023
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