sábado, 6 de maio de 2023

PREÁ COM AZIMUTE


Com noventa e nove colegas da área da saúde, na sua maioria do curso de medicina, iniciamos a primeira etapa do serviço militar obrigatório nas férias de julho de 1955.


O quartel do Centro de Preparações dos Oficiais da Reserva (CPOR) ficava no elegante bairro de São Cristóvão no Rio de Janeiro.


Os treinamentos físicos e militares eram feitos na Quinta da Boa Vista, vizinha ao quartel.


O local era maravilhoso! Com seus amplos jardins lindamente gramados e cuidados, e o Palácio Residencial do Imperador do Brasil e parte da Corte.


Uma vez por ano passávamos uma semana em Gericinó, área militar para exercícios dos futuros oficiais da reserva do exército brasileiro.


Pertencia ao município de Ricardo de Albuquerque.


Fiz muitos amigos no CPOR, e estreitei mais a camaradagem com os colegas de medicina da mesma escola.


Em Gericinó dormíamos em barracas para dez alunos, feitas por nós, assim como os sanitários descobertos e sem portas.


O reservado para oficiais e o comandante geral, um coronel, era construído pelos soldados.


Assim como o local do rancho e cozinha.


A disciplina era rigorosa, tínhamos que obedecer ao toque de acordar e de dormir.


Existiam exercícios que só podiam ser feitos à noite, após o toque de recolher.


A luz do gerador do acampamento era desligado e a noite era um breu.


Condições ideais para treinamento de localização de objetos bem escondidos pelos sargentos, e tínhamos de encontrá-los com o auxílio do azimute. Hoje temos o GPS.


Nunca consegui realizar com êxito esse exercício, e era sempre punido ao retornar ao acampamento.


Na ordem do dia o coronel comandante reprendia aos alunos que não haviam cumprido com a missão proposta.


Sempre tive muita dificuldade em mexer com tecnologia, motivo da escolha da medicina como profissão.


Minha mãe dizia que eu não tinha jeito para essas coisas.


Certa noite, um colega de faculdade, do interior de Minas Gerais, foi escalado para fazer o exercício do azimute.


Deixou o acampamento após o rancho com uniforme de campanha completo, fuzil pendurado no peito e o azimute na mão.


Retornou no dia seguinte e, no horário da leitura da ordem do dia, foi chamado pelo coronel comandante para se explicar.


Disse ele: “Estava caçando preá, frequente na região. Dei azar. Cruzei com alguns, porém errei os tiros. ”


Há dias escrevi uma crônica, dizendo que havia comido preá assado com arroz, no interior de um estado do nosso Nordeste.


Lembrei-me de Stephenson de Mattos, orador oficial da minha turma de médicos de 1960.


A última vez que encontrei o “caçador frustrado de preá” foi no dia 15 de dezembro de 1960, na solenidade da nossa colação de grau, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro.


Nessa ocasião fez um belo discurso acadêmico e, retornou à sua cidade natal.


O nosso coronel comandante, Ladário Pereira Teles, era um militar gaúcho da arma de cavalaria.


Entrou para a história do Brasil como último Ministro da Guerra do Presidente deposto Jango Goulart, em 1964.


Gabriel Novis Neves

01-02-2023










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