terça-feira, 23 de maio de 2023

CUIABÁ DE OUTROS TEMPOS


Como as pessoas mais velhas, principalmente aquelas com mais de sessenta anos, gostam de ler como era a Cuiabá de antigamente!


Gostam de saber como eram as antigas festas natalinas, as festas de São Benedito, as festas juninas de Santo Antônio, São João, São Pedro e Paulo.


E o carnaval de antanho, a Semana Santa e as festas cívicas.


A participação da população nessas ocasiões era integral.


Os moradores de bairros mais distantes, como os da Várzea da Ana Poupino ou Coxipó da Ponte e do Ouro, pouco participavam.


Quando vinham à cidade era para participarem de algumas procissões da Catedral e ouvirem os sermões de Dom Aquino Correa.


Uma moradora da antiga Várzea da Ana Poupino, nascida e criada lá, hoje moradora de Cuiabá, com seus oitenta anos, lê diariamente as minhas crônicas.


Escrevo muito sobre a Cuiabá da primeira metade do século XX e ela comenta comigo que não conhecia nada de Cuiabá daquela época.


Sempre me pede para escrever mais, especialmente sobre o nosso Centro Histórico.


Das ruas de Baixo, do Meio e de Cima com seus casarões e histórias impregnadas de bom humor do cuiabano da época dos apelidos.


Como é bom saber que a rua 13 de junho era chamada de rua “Bela do Juiz”!


Cuiabá de antanho não era sede de Comarca, e uma vez por mês recebia juízes de outros Estados para julgamentos de pessoas ditas “malfeitoras”.


Durante muito tempo a entrada e saída de Cuiabá eram feitas pelo cais do Porto do rio Cuiabá.


Diz a lenda que um juiz ficou apaixonado por uma bela moça que morava na rua que chegava ao Centro de Cuiabá.


Seus moradores, observadores, começaram a chamar a rua de “ Bela do Juiz”, depois trocada por 13 de junho, data da retomada de Corumbá dos paraguaios.


Fatos do cotidiano davam nomes às ruas do centro de Cuiabá.


“Travessa da Alegria” foi trocada pela rua Voluntários da Pátria.


“Linda” era a rua do Campo, atual Barão de Melgaço.


“Formosa”, a Joaquim Murtinho e “Bela” a 13 de junho.


“Largo Cruz das Almas”, para onde os condenados à forca eram levados para o “sacrifício”, foi depois denominado de Praça Marques de Aracati, em homenagem ao governador da Capitania de Mato Grosso que elevou Cuiabá de Vila à Cidade em 1818, e hoje é a atual Praça Ipiranga.


A rua Antônio João era uma ruela sem nome, com muitos chiqueiros, por isso apelidada de rua dos “Porcos”.


Hoje homenageia um dos heróis da Guerra do Paraguai, segundo o historiador Aníbal Alencastro estudioso da Cuiabá de outros tempos.


Com exceção da rua da “Bela”, da travessa da “Alegria” e do “Largo das Almas”, que já conheci com os nomes atuais, as outras citadas são da minha geração, e até hoje o trato pelos apelidos tão poéticos e históricos!


Como é bonito morar em uma cidade cujas ruas são chamadas de Baixo, do Meio, de Cima, do Campo, Linda, Formosa, Alegria e Bela do Juiz!


Becos, travessas, morros, prainhas, tanques, lava-pés, e o máximo para mim, a “rua sem saída. ”


Sei que das pessoas antigas poucos se lembrarão desses logradouros escolhidos como exemplos para esta crônica, e matarão a saudade.


Outros, com certeza, irão sentir inveja desta Cuiabá que não volta mais.


Percorrerão os nossos logradouros públicos e não se identificarão com parte dos nomes escolhidos para serem homenageados, sem trabalhos prestados à cidade e sem poesia.


Gabriel Novis Neves

12-05-2023












Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.