segunda-feira, 20 de março de 2023

TOUR PELA CIDADE


Quando criança era impossível sair do Tanque do Baú, bem atrás da Igreja do Rosário, e chegar ao bairro onde moro, pois este não existia.


O Tanque do Baú era uma lagoa onde nascia o córrego da Prainha, em frente ao Hospital Femina, no bairro da Lixeira.


O Tanque e a Prainha foram aterrados e não existem mais.


O bairro onde moro, era uma enorme chácara, e já sofreu pelo menos três alterações no seu nome.


Continuo sem saber em que bairro resido, apesar de possuir três CEPS diferentes (sigla de Código de Endereçamento Postal).


Um dia me imaginei chamando um taxi para um tour pela cidade.


Pedi ao jovem motorista que me levasse do Bar Moderno (Bar do Bugre), ao lado da Matriz (Catedral), até o distante Tanque do Baú.


Depois que ele retornasse passando pela porta da casa do Mestre Ignácio, dono de uma banda de música particular.


Ele tocava com seus músicos uniformizados em formação militar nos grandes eventos da Cuiabá antiga, inclusive em 1951 na posse do governador Fernando Corrêa da Costa no Palácio Alencastro.


O Palácio original térreo foi demolido e construído um prédio vertical, hoje sede da Prefeitura Municipal.


Mestre Ignácio, e seus músicos sofreram bulling por não serem músicos militares, como os das bandas do 16º Batalhão de Caçadores (Exército Brasileiro) e da Polícia Militar do Estado, apesar de serem excelentes profissionais.


Pedi ao motorista que passasse pela porta do armazém do “seo” Augusto Moreira e dona Bugaia, pais do Dr. Aécio Moreira, em direção ao Bar Colorido de dona Maia Umbelina.


Atravessasse a curta e estreita ponte sobre o Córrego da Prainha, que ficava atrás da Igreja do Senhor do Passos.


Continuasse pela rua de Baixo até a Pracinha.


Lá morava o Cháu, tinha o armazém do seu Abelardo Mansur, a Casa Rosa, a Sorveteria do Seror e a casa onde nasci (1935) na entrada das escadarias do Morro da Luz, próximo ao poli armazém do Tingo, antes de atravessar a outra ponte do Córrego da Prainha.


No pé do Morro da Luz morava o folclórico Antônio Peteté e seu inseparável leque.


Seguindo à rua de Baixo, na esquina do Hotel do Chico Jorge (batizado como Artur) em frente ao casarão do meu avô paterno Biézinho, pedi ao motorista que subisse pela Avenida Presidente Getúlio Vargas até a rua da Boa Morte.


Depois que tentasse, pela rua do Coxim, chegar próximo ao primeiro conjunto habitacional popular, construído pelo Presidente cuiabano Eurico Gaspar Dutra, depois chamado de bairro Popular.


Esse terreno para a construção das chamadas casas populares foi cedido pela prefeitura, então nos arrabaldes da cidade, bem distante do nosso Centro Histórico.


A região era toda povoada de chácaras e sítios, onde a água era abundante, rica em lençóis freáticos superficiais, com suas correntezas em direção ao córrego Manuel Pinto, propícios ao trabalho das lavadeiras de Cuiabá, competindo com as do Tanque do Baú.


Esse passeio hipotético aconteceu antes do GPS (Sistema de Posicionamento Global), quando os taxistas conheciam seus clientes pelo nome e sabiam onde moravam.


Hoje, com todas essas informações, o taxista depende da memória do seu cliente que, pela modernidade, nem ele mesmo sabe em que bairro mora, mesmo não sendo em um bairro em que não mora ninguém.


Gabriel Novis Neves

09-03-2023




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