Tenho certeza que há um movimento em Cuiabá para preservar a nossa memória histórica, um tanto quanto esquecida ou abandonada nesses últimos anos.
Sou de um tempo onde se empregava pouca tecnologia, e todas as informações que nos chegavam eram por cartas, jornais, revistas, livros impressos.
Eram lidos, compartilhados com a família, vizinhos e guardados.
Não existiam rádio, televisão, telefone ou internet, mas as nossas casas viviam entulhados de documentos que registravam nossa história em uma determinada época.
A leitura dos jornais nos inseriam no mundo.
No Rio de Janeiro nos anos 50 eram impressos diariamente cerca de vinte jornais que circulavam pela manhã, tarde e noite.
Com a chegada da internet as notícias são lidas e deletadas.
Os livros, mesmo os acadêmicos, e os jornais não são mais impressos.
A tecnologia ajudou a perder parte da nossa memória histórica e ninguém dá mais importância a registrar a nossa história oral.
Quando retornei para Cuiabá em 1964 lia jornais e revistas e os guardava num quartinho existente no fundo da casa que aluguei.
Se eu for ler um jornal de 1930, eu ainda não havia nascido, a notícia que lerei será nova para mim, pois a desconhecia.
As notícias antigas impressas não envelhecem e são sempre novas para alguém.
Assim que descobriram que os ácaros vivem em papéis velhos e os males que causam à saúde humana, iniciaram a queimar cartas, jornais, revistas, diários e livros antigos.
O nosso passado começou a ser transformado em cinzas.
A casa do meu avô era cheia de papel velho.
Ninguém podia entrar no seu escuro escritório que começava a tossir, sendo obrigado a usar as bombinhas contra a asma brônquica.
Estava repleto de documentos do seu pai que veio transferido da Bahia para Mato Grosso ainda muito moço.
Dr. Augusto Novis era médico-cirurgião concursado da Marinha Imperial e servia em Salvador.
Augusto de Leverger, um francês naturalizado brasileiro, era da Marinha Imperial e serviu em Cuiabá durante a Guerra do Paraguai.
Pediu ao Imperador do Brasil D. Pedro II que lhe enviasse um médico.
Cuiabá não possuía nenhum, e ele precisava de um médico para acompanhar a expedição que saiu de Cuiabá sob seu comando para a retomada de Corumbá dos paraguaios.
Foi governador de Mato Grosso e recebeu do Imperador o título de “Barão de Melgaço”.
Augusto Novis encontrou a cidade de Corumbá dilacerada pela cólera com mortos pelas ruas.
Trabalhou dois meses na melhoria do saneamento público e retornou à Cuiabá, já dominada pela cólera.
Como Cuiabá não possuía médico, se negou a retornar para Salvador, ficando aqui até morrer.
Única homenagem que Augusto Novis recebeu em Mato Grosso, foi da nossa Academia de Medicina.
É Patrono da Cadeira nº 7 ocupada pelo Dr. Almir Adena, um cardiologista que se mudou para cá em 1985.
Nosso passado não pode ser esquecido e a universidade federal e jornalistas modernos estão se esforçando para que histórias como essa do Brasil, Mato Grosso e Cuiabá não despareçam para as novas gerações.
Gabriel Novis Neves
24-02-2023
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