terça-feira, 21 de março de 2023

PSIQUIATRA


Em 1964 o único psiquiatra existente na nossa cidade era o Dr. Vargas, que havia se aposentado e retornado para curtir sua aposentadoria e mulher no Rio de Janeiro.


O Estado não era dividido e possuía em Cuiabá um hospital para os doentes mentais, chamado de Hospital Colônia de Alienados do Coxipó da Ponte, e sua direção era dele.


Com a sua ausência foi nomeado um clínico, Dr. Otelo Palma, do partido do médico Governador Fernando Corrêa da Costa, no seu segundo mandato, para a direção do chamado “Hospital dos Loucos” do Coxipó da Ponte.


Em 15 de março de 1966 houve troca de governo, naquela época com cinco anos de mandado, sem reeleição imediata.


O parteiro da minha mulher, Dr. Clóvis Pitaluga de Moura, foi nomeado secretário estadual de saúde e na falta de um especialista (psiquiatra), ele me indicou ao engenheiro ferroviário Pedro Pedrossian.


Este me nomeou então para a direção do hospital.


Mudei o nome do hospital, que muito nos humilhava, para hospital Adauto Botelho, um dos ícones da psiquiatria nacional.


Humanizei o tratamento oferecido aos pacientes e fiz uma reforma geral no prédio, acabando com as celas de isolamento e as correntes de aço amarradas nos tornozelos de alguns internos.


Contratei pessoal técnico de apoio, forneci bolsas de estudo para quem quisesse estudar enfermagem em Goiânia, contratei a melhor cozinheira hospitalar de Cuiabá, e os funcionários tinham participação no faturamento do hospital.


O trabalho foi tão apreciado pela população que após dois anos o governador ferroviário me nomeou para ser secretário estadual de educação do Estado.


Achava que a instrução no Estado estava uma loucura, precisando de um bom psiquiatra para cuidar dela.


Isso terminou com a criação de duas universidades no gigante Estado.


A federal em Cuiabá e a estadual em Campo-Grande, ambas em 1970.


Cuiabá já pariu a federal de Rondonópolis e Sinop, com os cursos de medicina.


A estadual de Campo Grande foi federalizada com a divisão de Mato Grosso (1977) com seu curso de medicina e pariu a federal de Dourados com medicina.


Cuiabá ainda possui duas universidades privadas, ambas com medicina.


Outras escolas de medicina ainda surgirão e formarão psiquiatras.


Todas as cidades de grande e médio porte em Mato Grosso têm médicos psiquiatras.


Em Cuiabá, atendendo em consultórios, pouco mais de cem.


Médicos fazendo análise só conheço um ou dois.


Há uma infinidade de psicólogos fazendo psicanálise.


É diferente tratar pacientes com distúrbios mentais com um médico ou psicólogo.


Simplesmente o médico é médico, e o psicólogo é psicólogo, duas carreiras da área da saúde, porém bem distintas.


Com os cursos de medicina, o médico psiquiatra perdeu seu estigma de médico de louco, e a loucura deixou de existir em um mundo louco em que vivemos.


Hoje existem pacientes que são medicados por psiquiatras com medicamentos de receituário azul e branco carbonado.


A psicanalise é procurada por aqueles de grande poder aquisitivo, pois o tratamento não tem fim.


É sempre seguido de orientação médica pelo menos com três sessões de cinquenta minutos por semana.


Em psicanálise não se faz hora-extra.


Muitos fazem psicanalise com psicólogos, e são atendidos pelo plano de saúde da Cooperativa dos Médicos de Cuiabá.


Já fui atendido por analista médico, psiquiatra e agora lendo tarô, onde só recebo notícias boas sobre minha saúde.


E tudo começou em 1966 no antigo Hospital Colônia de Alienados do Coxipó da Ponte, quando fiquei famoso como psiquiatra de Cuiabá.


Gabriel Novis Neves

10-03-2023










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