terça-feira, 7 de março de 2023

PERGUNTA DE CURIOSIDADE


Perguntaram-me se eu escrevia por obrigação ou prazer e qual era o meu método de criação.


Respondi que quando escrevia sobre o passado sentia um imenso prazer.


Não tenho nenhum método de criação como o meu amigo e colega reitor em 1972, Josué Montelo, do Maranhão.


Ele era um escritor com alta produtividade e membro da Academia Brasileira de Letras.


Dizia-me que todos os dias escrevia, pelo menos, meia folha de papel.


Disciplinado ao extremo deixou uma enorme obra literária, e esse era o seu método de criação.


No início me parecia estranho sentir mais prazer em escrever sobre as coisas vividas que as atuais.


Nunca tive a mínima habilidade sobre a arte de escrever sobre o futuro.


Cheguei ao Rio de Janeiro, no início do mês de março de 1953 para concluir meu último ano do ensino médio e me preparar para o vestibular de medicina.


No ano anterior o meu pai me levou nas férias de julho para passar duas semanas na “Cidade Maravilhosa”, para que eu fosse me acostumando a viver sozinho em cidade grande.


Não preciso dizer do meu encantamento com as belezas naturais da cidade, com suas praias, o mar, lagoas, morros, serras e suas lindas mulheres.


Tudo que via achava maravilhoso e lindo! 


Seus edifícios, amplas avenidas, tráfico intenso, bondes e uma vida noturna de deixar saudade.


Até então o que sabia do Rio era através das revistas, cinemas, rádios e narrativas da imensa colônia cuiabana que estudava e vivia lá.


Entrei em estado de deslumbramento, quando fui morar numa cidade grande, um sonho para o menino do interior.


Para os mais antigos tudo que eu via com êxtase, era visto com nostalgia de um Rio de Janeiro bem melhor dos anos passados.


Retornei para Cuiabá em fins de 1964, e os jornais e revistas dos anos setenta se referiam aos anos cinquenta e sessenta como “Anos Dourados”, vistos pelo retrovisor do tempo.


Atualmente os cariocas, que são pessoas nascidas e que vivem na cidade (quem nasce em Niterói é fluminense), não enxergam as belezas naturais que permanecem no seu mesmo lugar.


Dizem que o Rio é uma cidade suja, violenta, com mendigos dormindo nas ruas e feia.


De vez em quando visito a cidade onde morei por tanto tempo e finquei raízes afetivas profundas.


Nunca fui assaltado, e o homem e a tecnologia ajudaram a cidade a ficar mais bonita.


Hotéis e restaurantes maravilhosos, com os belos jardins do Burle Max no fantástico aterro do Flamengo!


A duplicação da avenida Atlântica e a abertura de novos túneis facilitou a ligação da zona norte à zona sul.


A revitalização do cais do Porto.


Mesmo pertencendo às gerações anteriores continuo achando o Rio, lindo.


Gosto de escrever sobre o Rio dos “Anos Dourados”, que foi quando lá morei e só descobri que era assim por relatos de muitos que ainda não eram nascidos.


Escrever sobre o passado sempre foi fascinante para mim e me causa prazer.


Sem obrigação ou método de criação, apenas revivendo emoções.


Gabriel Novis Neves

01-03-2023











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