Domingo de junho de 1953 eu tinha 17 anos e o primeiro morando no Rio de Janeiro para estudar medicina.
Almocei no apartamento dos irmãos do meu pai na rua Duvivier, esquina com a avenida Atlântica, no Posto 2- Copacabana, o bairro mais charmoso do Brasil.
Moravam no pequeno apartamento 3 tias e 2 tios solteirões, irmãos do Bugre do bar.
Três solteiros eram funcionários públicos federais classe “O”, de penacho.
As outras duas cuidavam da casa.
Os homens, como grande parte dos moradores de Copacabana eram torcedores do Botafogo, do bonitão Heleno de Freitas, ídolo do clube da estrela solitária.
Tio Coca me convidou para assistir à estreia do Botafogo no Campeonato Carioca de Futebol contra o São Cristóvão no Estádio de General Severiano, campo do Botafogo.
Naquela época era jogado o campeonato de aspirantes às 13:30h, que eram os reservas, e depois as partidas principais com os titulares.
Não existia ainda nem o torneio Rio-São Paulo ou Campeonato Brasileiro.
O campeonato carioca terminava em dezembro.
Os jogadores tiravam férias e partiam rumo as excursões por países europeus e sul americanos até o início do carioca em junho.
O time do Botafogo havia sido campeão carioca em 1948 com Osvaldo, Gerson e Santos; Rubinho, Ávila e Juvenal; Paraguaio, Geninho, Pirillo, Octávio e Braguinha.
No primeiro jogo do Carioca de 1953 não contava com o ponta Paraguaio vendido ao América do Rio, e com Pirillo, aposentado e substituído por Dino. Rubinho foi substituído por Arati.
Era um time campeão envelhecido sem o seu ponta titular e um lateral direito e artilheiro de fácil substituição.
Antes do início do campeonato de futebol o Rio de Janeiro só falava no Grande Prêmio Brasil do Hipódromo da Gávea.
Era uma festa da alta grã-finagem com o comparecimento do Presidente da República.
Por dois anos consecutivos o cavalo argentino Guallicho, criado no Brasil, havia vencido o Grande Prêmio da cidade de São Paulo e do Hipódromo da Gávea.
Como chegamos cedo no Estádio do Botafogo, sentamos na pequena arquibancada descoberta de frente para o sol, com poucos torcedores.
Em frente, na sombra, ficava a arquibancada coberta, tribuna de honra e cadeiras para sócios e pagantes.
À esquerda uma pequena torre para alojar a imprensa.
Compramos sacos de pipocas, e os comentários dos fanáticos torcedores que assistiram ao treino era só sobre um ponta direita que o Arati, lateral do Botafogo, havia trazido de Pau Grande para jogar no Botafogo.
Foi colocado para treinar entre os reservas, e como não conhecia nenhum astro do Botafogo, a primeira bola que recebeu, logo veio o seu marcador.
Ele balanceou o corpo e passou a bola no vão das pernas do seu marcador, que foi ao chão.
Repetiu a jogada e ele fez a mesma coisa.
Gentil Cardoso, o técnico do Botafogo encerrou o treino.
Não tinha mais ambiente, e o marcador do menino de pernas tortas, que alguns chamavam de Guallicho, ligando ao campeão dos hipódromos, era simplesmente Nilton Santos!
Este foi à diretoria após o treino pedir a contratação do Guallicho, Garrincha, Mané Garrinha ou simplesmente Mané.
Terminado o jogo de aspirantes onde Garrincha estreou e fez miséria com os seus adversários, saiu carregado como ídolo.
Na próxima rodada contra o Bonsucesso, na Leopoldina, o Botafogo venceu por 6X3 e Garrinha marcou três gols.
Mangaratiba era o ponta titular que o Garrincha substituiu, e nunca mais ninguém teve notícias dele.
Garrincha foi um exemplo de sucesso.
Serve de lembrança aos jovens para mostrar como o alcoolismo derrota ídolos.
Mané morreu aos 49 anos de idade vítima do alcoolismo que adquiriu na infância.
Era descendente de tribos indígenas que existiam entre os Estado de Alagoas e Pernambuco.
Na sua tribo todos usavam o álcool como bebida desde criança, quando adquiriu o hábito.
Ele merece todas as homenagens dos velhos que o acompanharam, idolatravam e amavam.
Foi o maior jogador de futebol, tendo vencido todos os campeonatos que disputou, inclusive duas Copas do Mundo.
Gabriel Novis Neves
16-02-2023
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.