sexta-feira, 14 de outubro de 2022

DR. ANÍBAL PINHEIRO


Depois de longa ausência estudando no Rio de Janeiro, retornei à minha cidade natal casado e prestes a ter o meu primeiro filho.


Naquela época não existia o exame de ultrassonografia, que determina por antecipação o sexo do bebê e, o teste usado era do garfo (menino) e da colher (menina).


Estes eram colocados na cama do casal, cada qual em baixo de um travesseiro.


A gestante escolhia um para sentar, sem antes ter visto essa arrumação, e aquele escolhido era o sexo da criança.


Minha mulher era argentina, criada no Rio e não tinha vínculos em Cuiabá.


Meus amigos de infância que por aqui ficaram estavam casados e suas vidas encaminhadas, dificultando mais a nossa adaptação na cidade que era toda minha.


Tive apoio de colegas ilustres que me ajudaram muito, e um guia abnegado - Carlos Eduardo Epaminondas.


Era final de governo de Fernando Corrêa da Costa que, apesar de primo irmão da minha mãe Irene, não pode me ajudar, pois o meu pai, o Bugre do Bar, era de partido contrário.


Embora nunca se manifestasse publicamente, pois, segundo ele, comerciante não podia ter partido político, mas votava sempre no PSD.


No ano seguinte venceu as eleições para governador do Estado um engenheiro ferroviário de Miranda, filho de armênio, Pedro Pedrossian.


A oportunidade que me foi oferecida, por indicação do seu Secretário de Saúde Clóvis Pitaluga de Moura, meu compadre e médico da minha mulher Regina, foi a direção do Hospital Colônia de Alienados do Coxipó da Ponte.


Assim comecei a conhecer as autoridades e homens públicos da minha cidadezinha, de menos de 100 mil habitantes.


Fiquei apenas dois anos nessa função (1966-1968), deixando o agora Hospital Adauto Botelho, e fui convocado a ser Secretário de Educação e Cultura. 


Permaneci nesse cargo até o último dia do mandato de Pedrossian, e no mesmo dia (16-03-1971), fui nomeado e empossado reitor pró-tempore da UFMT pelo Ministro Jarbas Passarinho.


Como Secretário de Educação e Cultua (SEC), conheci o professor Aníbal Pinheiro do Coxipó da Ponte, então Presidente do Conselho Diretor do ICLC (Instituto de Ciências e Letras de Cuiabá), órgão de ensino superior subordinado à SEC, com autonomia didática, mas não financeira.


Logo que assumi, e mal conhecia as inúmeras funções da minha secretaria, estourou uma crise no ICLC.


Seu Diretor Executivo e o adjunto administrativo e financeiro, queriam a demissão de Aníbal Pinheiro, educador exemplar, do seu cargo.


Eles disseram, ao Pedrossian e a mim, na sala de visitas da Residência dos Governadores, na rua do Campo (Barão de Melgaço): ou ele, Aníbal Pinheiro, ou nós, num ato de rebeldia incomum.


Terminada a reunião Pedrossian assinou o ato de demissão dos três insubordinados, pedindo que se publicasse imediatamente no Diário Oficial do Estado.


Respeitou a legalidade do mandato do Pinheiro que o cumpriu integralmente, e determinou que eu escolhesse novos substitutos para as funções vagas.


Passei a conviver mais com ele e, por esse fato, fui obrigado a ficar até o final do mandato do governador, quando o combinado seria um contrato de 60 dias na SEC.


Passados mais de 50 anos posso dizer que Aníbal Pinheiro foi um dos responsáveis por eu ter sido Reitor Fundador da UFMT.


A Faculdade Federal de Direito se uniu ao ICLC, dando origem a nossa pioneira universidade.


Trabalhamos juntos no ICLC e depois na UFMT, quando lecionou aulas no curso de Direito até se aposentar das suas funções acadêmicas.


Aníbal Pinheiro ocupou vários cargos importantes, como Presidente da OAB (Órgão dos Advogados do Brasil) seção de Mato Grosso e Chefe da Procuradoria Geral do Estado, além da advocacia, sempre morando no Coxipó da Ponte.


Teve uma infância de todo menino pobre, cheia de dificuldades e no Rio de Janeiro não o conheci, devido à nossa diferença de idade ser de 7 anos.


Quis o destino que eu fosse professor e agora paciente do seu filho Marcelo que nasceu pelas minhas mãos, excelente endocrinologista.


Aníbal Pinheiro nos deixou e partiu para o plano espiritual.


Mas nos deixou um enorme legado de honra e dignidade, exemplos a serem seguidos.


Gabriel Novis Neves

13-10-2022




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