domingo, 12 de fevereiro de 2023

OS PITORESCOS 62


Bem antigamente as ruas de Cuiabá tinham nomes que foram sendo substituídas com o tempo.


Bastava morrer uma pessoa importante ou político influente para o poder legislativo providenciar de imediato a substituição do nome de ruas, avenidas, travessas, becos, pontes, praças, lagos, bairros, prédios públicos, para o seu nome genérico ou fantasia.


Isso aconteceu em todas as cidades do Brasil, sendo a do Rio de Janeiro uma das mais afetadas.


Nem sempre a população aceitava.


Após a morte do compositor Antônio Carlos Jobim, o Tom Jobim, queriam mudar o nome da avenida Vieira Souto em Ipanema para o nome do compositor de “Garota de Ipanema”.


Contentaram em mudar o nome do Aeroporto Internacional do Galeão, para Aeroporto Internacional Antônio Carlos Jobim, compositor também do “Samba do Avião”, enterrando a história recente do Brasil.


Quem não se lembra da instalação da República do Galeão logo após a morte do major Vaz da Aeronáutica no atentado da rua Tonolero em Copacabana?


Esse atentado terminou com o suicídio do Presidente Getúlio Vargas no Palácio do Catete, em agosto de 1954.


Pelé ainda estava vivo e tentaram mudar o nome do Estádio do Maracanã, jornalista Mario Filho, para Rei Pelé, embora já existisse um com esse nome em Alagoas.


Não conseguiram.


Aqui em Cuiabá as coisas aconteceram de uma maneira descontrolada e poucas substituições vingaram.


O córrego que cortava a cidade era chamado de córrego da Prainha e existiam duas ruas paralelas.


Quando da sua urbanização o cuiabano a chamava de avenida da Prainha.


Os descendentes do Tenente Coronel Duarte, que era homenageado como nome da rua que desapareceu para surgir a avenida, foram reclamar com o governador pela permanência do nome do tenente coronel, que só seus familiares conheciam.


Ficou avenida Tenente Coronel Duarte, embora todos a conheçam como avenida da Prainha.


Procuro nas minhas crônicas chamar as ruas de Cuiabá e demais logradouros públicos sempre pelos seus nomes originais, só reconhecidos pelas gerações mais antigas.


Alguém conseguiria me informar onde ficava o tanque do Baú?


Ficava no extremo norte da cidade.


Depois encontrávamos chácaras, sítios e fazendas.


Hoje o local foi aterrado, construído um prédio público em frente ao Hospital Femina.


Sempre achei o nome fantasia, uma fantasia oportunista sem alma ou poesia.


Como era poético chamar rua de Baixo, do Meio, de Cima, do Campo, do Caixão.


Beco Alto, Quente, Estreito, Torto, do Sovaco, Urubu, da Mandioca, do Quartel, do Lavapés.


Avenida da Prainha, do CPA, Coxipó, dos Trabalhadores, da Ponte Nova, Velha, do Cristo Rei, da Confusão, do Cemitério.


Bairro do Mundéu, Mundéuzinho, Santa Casa, Areão, Dispraiado, Lixeira, Goiabeiras, Cruz Preta.


Campo d’Ourique, da Pólvora, da Boa Morte, do Cai Cai, Porto, do Colégio Estadual.


E por aí caminhamos num saudosismo sem fim.


Apesar da fantástica explosão demográfica dos últimos cinquenta anos, nossos migrantes espalharam nomes de seus parentes em escolas, postos de saúde, rodoviárias, pelos mais diversos logradouros públicos e até municípios, muitas vezes trocando pelos nomes originais.


Na Cuiabá de hoje procuramos a nossa história visual imortalizada em ruas, avenidas, becos, praças, escolas e postos de saúde e não mais encontramos.


Como diz o nosso caboclo, só pode ser por falta de sorte.


Gabriel Novis Neves

16-01-2023













Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.