Em uma semana em que recebi muitas homenagens, tive a felicidade de uma visita não programada.
Não lhes nego: sentimo-nos muito à vontade.
Minha casa sempre foi muito frequentada. Isso eu credito à minha mulher, anfitriã como poucas. Albergava o dom de a todos cativar.
Aliás, isto era dela: a passear, preferia receber em casa seus convidados.
Embora eu pudesse fazê-lo, em tempo algum a nomeei a cargos importantes. O curioso é que ela não se fazia presente aos eventos que a liturgia do cargo me impunha. Respeitava-lhe.
Passado o tempo, não mais escondo a causa: entendia que muitos compareciam só para homenagear o cargo, não o seu ocupante.
Hoje, chego à conclusão de que os eventos se revestem dessa verdade. Sempre foi assim. O sexto sentido dela não a traiu.
Uma das minhas irmãs me disse que no aniversário comemorativo dos 88 anos de uma querida amiga e cliente, houve quem cuidou de constranger os presentes. No decorrer da festa toda.
Na ocasião, trouxe à cena o fato de não haver contratado sua filha única. Por sinal, minha afilhada.
Fico eu aqui a imaginar o constrangimento que causou a todos. Quero crer que isso veio ao encontro do pensar da minha mulher.
Sem meias palavras, dizia ela: ‘A essas solenidades vão muitos que só querem aproveitar do cargo que você ocupa para tirar algum proveito pessoal’.
Arrematava: ‘São pessoas que não gostam de você e, na primeira oportunidade, irão apunhalá-lo pelas costas’. Como desdizê-la?
As visitas que tenho o privilégio de receber em casa encartam outro viés: afetividade.
Taí um sentimento que, em muito, revigora nossa saúde física, mental e até espiritual.
Nesses encontros, a gente não vê a hora passar. O papo corre gostoso, como se uma cachoeira fosse, águas jorrando de montão.
Há alguns amigos que me visitam e trazem até ‘merenda de casa’.
Ora saladas de frutas ou bolinhos de arroz feitos pela dona Eulália, lá do bairro da Lixeira. Sejam bem-vindos!
Ao lado deles, a conversa fluía tão prazerosa que nem via o relógio andar. Às vezes, precisava alertá-los do avançado da hora.
A última visita que recebi foi toda encanto, repleta de amenidades. Sabe aquela pessoa que nunca se socorreu de você? É a própria. Amizade tardia, conquistada na maturidade.
Foi uma visita surpresa, com direito a apetitoso lanche.
O melhor: não se comentou sobre a guerra entra judeus e palestinos na Faixa de Gaza, com centenas de crianças mortas.
Nada a respeito do futuro da nossa Santa Casa de Misericórdia, com um passivo financeiro impagável.
Nem sobre a conquista da Taça Libertadores pelo Fluminense.
O encontro, ao final, exalava aquele ar de ‘quero mais’. Espero haja outros. Sabedor de que o espaçamento, entre um e outro tem o mérito de gerar expectativa que ainda mais nos afeiçoa.
Gabriel Novis Neves
04-11-2023
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