terça-feira, 28 de novembro de 2023

EM FAVOR DA MEMÓRIA


Antes da criação da nossa Universidade, quem vinha de fora é que brilhava, detentor de todo prestígio. Esse modo de pensar flutuava no ar como se fora um ‘veredicto’.


A Universidade, diga-se, não conseguiu pôr fim à ‘farra do conhecimento’. Abriu, porém, oportunidade aos ‘nativos’.


Com uma universidade bem estruturada, já abrigando, em seu seio, alguns Museus, considero estranho que o Museu de Arte Sacra de Mato Grosso esteja dela alijado, sob os cuidados de uma Secretaria do Estado.


O Museu de Arte Sacra foi fundado em 10 de março de 1980.


Incorpora diversas peças do período setecentista, que são remanescentes da antiga Matriz do Bom Jesus de Cuiabá. De igual, objetos da Igreja de Nossa Senhora do Rosário, São Benedito e Senhor dos Passos.


Agasalha também parte do acervo pessoal do saudoso Dom Aquino Corrêa, a que se soma um sem-número de doações particulares.


A missão do Museu — não há quem a ignore —, tem o fim de preservar, conservar, divulgar e transmitir a memória e a história do seu acervo.


As coleções são compostas de alfaias, pratarias, imagens, paramentos, retábulos e indumentárias provenientes dos séculos XVII a XX. São preciosidades que conduzem os visitantes a uma viagem no tempo.


Meninote ainda, afilhado de crisma do ‘Príncipe dos Poetas’, eu o visitava aos domingos à tarde. Posso lhes afiançar que, em seu gabinete, a simplicidade reinava. Soberana. 


Seu acervo, quase todo, pertence ao Museu. Dom Francisco de Aquino Corrêa foi o Arcebispo mais jovem do Brasil. Filho da terra, coube a ele assumir, numa atitude de conciliação, o Governo do Estado. É de assinalar que o futuro arcebispo nasceu numa chácara, à beira do Cuiabá.


Embaixador Plenipotenciário do Brasil — isto é, investido de plenos poderes —, honrou muito seu Estado natal, ao ser aclamado membro da Academia Brasileira de Letras.


Importa registrar que esta honraria não lhe foi dada por mera cortesia. Quem o conheceu, pôde comprovar o magnífico orador sacro que foi. Seus sermões e discursos arrastavam multidões! 


Reporto-me à histórica e, por que não dizer, pra lá de questionada demolição de nossa Catedral. Não havia símbolo de religiosidade que a ela se comparasse.


Alvo de descontentamento, mais que tudo da parte de quem lhe desconhece os meandros da história. Mas asseguro que técnicos, de gabarito comprovado, após detido estudo, concluíram que sua manutenção haveria de implicar alto risco. 


Verdade seja dita: a Matriz foi construída de ‘pau a pique’. Por inteiro de adobe. Estava machucada, e como, pelo tempo. Quando da fundação, tinha só uma torre. Bem depois, fizeram-lhe outra, mantida a estrutura pra lá de centenária.


Foi demolida em 1968. À luz do parecer técnico, o prédio estava prestes a ruir. Daí por que se decidiu por construir a atual, toda de concreto.


É indispensável pontuar que as histórias religiosas das igrejas de Cuiabá são recheadas de encanto!


Ainda nos dias que correm, ricas de fervor religioso são as missas de madrugada na Igreja de Nossa Senhora do Rosário e de São Benedito.


A Igreja do Senhor dos Passos, por sua vez, encerra uma história incrível, tendo sido construída por um rico comerciante português. Por sinal, ele está sepultado em sua cripta.


Esquecer não podemos de conferir o merecido crédito às devotas procissões que invadem nossas igrejas!


O tempo passou. Respeito os que palmilham outro pensar. A meu ver, contudo, encerro a convicção de que não há lugar mais apropriado para preservar a memória religiosa do Estado. 


De mãos dadas com a UFMT. Sempre.


Gabriel Novis Neves

13-7-2023














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