segunda-feira, 27 de novembro de 2023

RECONFORTO À VISTA


Sou feliz! Melhor seria dizer: tenho experimentado uns momentos de intensa felicidade. Em bem da verdade, ninguém consegue ser feliz o tempo todo.


Um amigo intelectual de São Paulo, bem desgastado com a vida que levava, certa vez cantarolou, dedilhando seu violão.


A canção, de sua autoria, desfilava uma estrofe com este verso: ‘pra meu consolo, tenho as estrelinhas do céu, os livros e o violão’.


De minha parte, seus dons não me causam inveja. Sim, também eu me orgulho de os ter. Mas devagar com o andor! Embora tenha me esforçado, manejo o violão sem destreza alguma.


Se as estrelinhas sorriem para ele, a mim foi dado, por igual, o privilégio de que elas também brilhassem no meu céu. Estamos empatados nesse quesito, um e outro agraciados por Deus.


No respeitante aos livros, fui à farta aquinhoado por meus pais. Desde tenra idade, este era o desejo deles: que me fascinasse com a leitura.


Olhos no futuro, sabiam eles que os livros haveriam de me abrir os caminhos da vida, fazendo-me útil à sociedade.


Já o violão, quem me deu de presente, em um aniversário, foi um desses irmãos cuja saudade nem o tempo consegue apagar: Benedito Pedro Dorileo. 


É de notar que meu amigo paulista, embora fosse criado, desde o alvorecer de seus dias, num ambiente em que a música imperava, apenas arranhava as cordas do seu violão.


A vida nos reserva fases em que a felicidade parece ter brigado conosco. Sinto até dificuldades em saber como proceder nessas ocasiões. 


Jeito é buscar algo que tenha o poder de suavizar a jornada. Algo que, ao menos, nos devolva o prazer de viver, revigorando-nos.


Sei, são instantes isolados. Mas não há quem não passe por isso. Ainda que fugazes, deixam marcas doídas, que nos machucam em cheio.


 Meu amigo tentou externar os reveses da sorte com uma música. Taí, uma boa e oportuna saída.


Dias há em que nossas flores não abrem. Quando algo me põe para baixo atingindo-me em cheio, procuro abraçar a minha solidão com a frieza do teclado do computador.


Esse estado d’alma, chego a pensar, parece não abalar nossos jovens. Bem sei: têm mais com que se distrair. É um tormento que aflige em especial os idosos.


Dado o desconforto geral, não conheço remédio ou psicanálise que cure. Violão, não aprendi a tocar. Penso que ele pode ser reconforto nessas intempéries.


Houve um tempo em que contratei um bom professor de violão. Embora assim, não obtive êxito no tocá-lo com um mínimo de qualidade.


Espero que as horas que invisto nos meus afazeres junto ao computador, consigam minorar esse desconforto que, de quando em vez, me abate.


Sei que o Criador, por sua graça e bondade, está a me conceder um ‘extra’. Nesse lapso, que o bom uso do tempo seja convidativo para me amenizar as horas.


Tendo emprestado boa parte do dia para a feitura de minhas crônicas, resolvo fechar meu notebook.


A televisão me convida para assistir a uma partida de futebol internacional. Que me delicie! Fiapos de reconforto à vista! 


Gabriel Novis Neves

19-7-2023




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