De uns bons tempos para cá, domina-me uma ‘estranha tortura’ durante o curto pedaço de sono pós-prandial.
Sim, por incrível que pareça, eu início e concluo um texto no decorrer do sono, um tanto superficial, que me concedo após o almoço.
Não me escapa um só de seus parágrafos. Mas, ao chegar ao escritório para digitá-lo no notebook, já se desabalou por inteiro: não me recordo de nada mais.
Meu inconsciente não tem sido generoso comigo, e eu não sei o que fazer diante de perda tão sentida.
O processo de criação é, de todo, cerebral. Quando o inconsciente se desconecta da parte consciente, a sensação é de frustração.
Não lhes posso negar: isso, por vezes seguidas, comigo tem ocorrido.
Fica-me esta dúvida: como é difícil saber o que é normal e o que escapa da normalidade. Do nada, salta-me uma ou outra pergunta à feição destas: a quem devo procurar? Será melhor deixar como está?
Não é por qualquer motivo que alguém, tão só por ser questionador, necessite de tratamento. Considerado um chato, não por outra razão se agiganta o número deles.
Habitam por todos os cantos, estando de constante a nos importunar. Todo cuidado é pouco, dado que se fazem bem espertos.
O conhecimento voltado à saúde mental e à psicologia avançou neste quarto de século. De bom-tom talvez fosse recorrer a uma consultoria que espalhe sobre mim um pouco de luz.
Até hoje não tenho respostas para certas perguntas que me endereço. Entre essas, qual é, na real, o ‘conceito de normalidade’.
Também me ocorre outra que me embanana: ‘quem sou eu’? E tantas mais há que cruzam comigo nos volteios da vida.
Não devemos envelopar os humanos com estatísticas. Estas buscam reduzi-los a números, sem levar em conta o enxame de dramas que os afligem.
A incerteza que envolve a pergunta ‘quem sou eu’’, nem mesmo nossos poetas populares conseguiram desatá-la com seus versos.
Só me resta a possibilidade de me ancorar num ser superior. Este, por inteiro, comanda nossos sentidos. Portanto, também nossa vida.
O mundo está absorto em mistérios. E não há mistério maior do que a vida, a nos maravilhar a cada manhã que se espreguiça diante dos olhos.
Quem estuda genética, ao estilo dos que abraçam a Medicina, não tem por que não crer na onipotência de um Deus, que a tudo criou.
Baste-nos, para não navegar por águas mais revoltas, tão só imaginar que duas células — uma feminina, associada à outra, masculina — definem a origem do ‘homem’!
E saber que — como num passe de mágica —, quando se encontram na trompa feminina, ‘destampa’ a vida! É de pasmar! À medida que me escorregam as horas, mais pequenino me sinto!
Que meus seguidores me desculpem! Não se trata de um mero devaneio mental. Fosse, não o haveríamos de contabilizar, hora após hora, não às dúzias, mas aos milhares.
Dia sim, e outro também, eu me proponho a administrar a ‘estranha tortura’ que me atropela. Dia chegará, e ela será, de uma vez por todas, aclarada. Que as borboletas da esperança me afaguem!
A Deus, toda a glória!
Gabriel Novis Neves
19-10-2023
La siesta, Autor: BERNI, Antonio (Argentina, Rosario, 1905 - Argentina, Buenos Aires, 1981), Museo Nacional de Bellas, Argentina
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