terça-feira, 14 de novembro de 2023

HORÁRIO PARA ESCREVER


Em meio aos que me dão o privilégio de ler o que produzo, há quem me pergunte qual o melhor horário ‘para escrever’.


Quando eu era criança, minha mãe me acordava para estudar de madrugada, bem antes de ir ao colégio.


Esse hábito saudável me acompanhou quando o Rio de Janeiro me convocou: lá pude dar sequência a meus estudos.


Para sorte minha, o colega que comigo dividia o quarto da pensão, cuiabano da gema como eu, tinha também essa mania. Saudável, por sinal.


Deitávamos logo após o jantar. Púnhamos o despertador para nos acordar às duas, quando não às três da madrugada.


Outros colegas, muitos do interior de São Paulo, faziam o inverso: iam dormir quando levantávamos. Os latinos diziam que de gosto não se discute. Creio que de hábito também não.


Verdade é que, de um jeito ou de outro, chegamos todos ao mesmo porto: fomos agraciados com o sucesso no vestibular de medicina.


Passados setenta anos, pergunta semelhante volta a aflorar. Agora, com um matiz novo: saber o ‘melhor horário para escrever crônicas’.


Meu estado clínico é outro. Deito cedo. Logo após as 21h, cuido de me entregar ao sono reparador. Acordo, já dispensado o despertador, às 7h. Mas não omito a verdade: continuo a brigar com o sono.


Esforço-me para tomar o café — a refeição que mais bem me faz — e ir ao escritório. Daí por diante, delicio-me com o escrever, fazendo-o até que o almoço me chame para 'papear'.


Não contrariasse meu corpo, passaria grande parte da manhã deitado na cama, rolando de um lado para outro sem dormir.


Mas voltemos ao título que nos propusemos para o dia. O melhor período para escrever, isso vale para qualquer um, é quando a inspiração nos acarinha.


Mesmo com a rotina dos afazeres domésticos a cumprir, escrevo pela manhã e à tarde com o mesmo aproveitamento. Ao menos, é assim que sinto.


De modo geral, mesmo sendo interrompido aqui e ali — disso não lamurio! —, é do meu feitio fazer uma crônica em cada período.


Quando me vejo invadido pela ‘diarreia literária’, chego a produzir até cinco crônicas diárias. Exceção, é preciso se diga.



De raro em raro, intercalo, entre uma e outra, pequenas pausas. Sim, ninguém é de ferro.


Tenho enfileirada uma série de crônicas para ser publicadas. O medo que trago encastelado no peito é permitir que algumas venham a envelhecer. 


Nem tudo que escrevo é ‘atemporal’. Muitos textos escritos já se perderam no tempo.


Seja o que seja, vou caminhando pela trilha que escolhi para esta fase da minha vida. E me curvo à luz da felicidade que atapeta o chão das minhas horas.


Gabriel Novis Neves

10-11-2023




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