quinta-feira, 19 de maio de 2022

PENSÕES DE CUIABÁ II


Bem antes de viajar para estudar medicina no Rio de Janeiro, tinha um tio solteiro, funcionário do IAPC de Cuiabá, que morava em um quarto da pensão Pécora.


Ficava no início da rua Joaquim Murtinho, nos fundos do Palácio da Instrução.


Era um casarão que foi adaptado para receber hóspedes.


Fornecia refeições a seus hóspedes e para fora em marmitas.


A família Pécora tinha tradição no ramo da gastronomia.


Obesos, lembro-me do Gari Pécora e de uma sua irmã tocando o empreendimento.


Em Cuiabá faltava muita água e eles tinham um folclórico funcionário chamado Firmino.


Em um latão de 20 litros, com uma rodela de pano na cabeça, passava o dia todo trazendo água da bica da prainha para a manutenção da pensão.


Segundo Firmino, ele só tinha folga aos domingos, depois das três da tarde.


Era quando ele se aprontava para passear.


Descia à pé pela rua 13 de junho e ia até o Porto.


Logo no início da rua 13 encontrava a sua madrinha sentada na cadeira de balanço com seu marido e amigos, conversando.


Ela com um leque feito aqui em Cuiabá, para espantar mosquitos e calor.


Firmino parava para pedir benção à professora Alina Tocantins, diretora da Escola Modelo Barão de Melgaço, cargo muito importante naquela época.


Sua madrinha perguntava pela sua saúde e se estava satisfeito com o serviço de carregador de água da bica da prainha para a pensão Pécora.


Firmino que tinha o apelido de Guaporé, disse certa ocasião que Cuiabá já não era aquela de antigamente.


Tinha muita gente de fora, desconhecida da gente.


Imagina minha madrinha, um dia desses estava esperando a minha lata encher de água, na bica da prainha, quando apareceu um homem que nunca vi, querendo puxar conversa comigo.


Fiquei com medo dele querer fazer mal comigo, minha madrinha.


Tenha mais cuidado Firmino, não vá à bica de noite, meu filho.


Ele se despediu e continuou a caminhar rumo ao Porto.


Quando voltei médico, antes de completar quatro anos de Cuiabá, fui nomeado secretário de educação do estado.


Existia um centro de treinamento de professores primários de todo o estado em regime de internato, na sede atual do 9º BEC.


Fui visitar o centro de treinamento e para surpresa minha, encontrei o Gari Pécora como responsável pelas refeições dos professores.


Trabalhamos juntos por três anos, quando provei os quitutes da pensão Pécora.


Uma maravilha.


O Gari teve outros lugares onde servia refeições, até se aposentar.


Morava ultimamente na estrada próximo ao Sayonara e Balneário Santa Rosa, no Coxipó.


Na década dos anos 70, aos domingos ao pôr do sol, com a Regina e três filhos, íamos à casa do Gari no Coxipó, para jantar galinhada feita na hora pelo Gari Pécora.


Gabriel Novis Neves

30-01-2022




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