segunda-feira, 2 de maio de 2022

ALGUNS COLEGAS DE FACULDADE


Eu pertencia a uma turma de medicina com muitos estudantes, pois além das 100 vagas ofertadas no vestibular, ainda tínhamos os excedentes e os bolsistas estrangeiros de todos os países sul americanos.

No primeiro ano do curso nos reuníamos em amplo anfiteatro para as aulas teóricas de histologia, embriologia, biofísica e, aula inaugural de anatomia descritiva.

Os professores se comunicavam através de microfones.

Depois, a turma era dividida em grupos menores para aulas práticas na Praia Vermelha e vários hospitais do Rio de Janeiro.

Eu era da turma da Santa Casa e praticamente não tinha contatos com os colegas do Hospital São Francisco (avenida Presidente Vargas) e São Sebastião, no Caju.

Na parte profissionalizante, quando no quinto ano prestávamos concurso para a Prefeitura, o contato entre nós ainda era menor, pois ficávamos trabalhando na imensa rede pública de Urgências e Emergências, espalhadas por todo o Rio de Janeiro.

Outros já estavam frequentando hospitais de acordo com a sua futura especialização (Pro Matre, Hospital Ortopédico, Moncorvo Filho etc.)

No nosso primeiro ano, a partir do mês de julho um grupo de cem alunos frequentavam o CPOR (Centro Preparatório de Oficiais da Reserva).

Com esse grupo surgiu novas e duradouras amizades.

O grande ponto de encontro, dos estudantes do interior e que era maioria, era o bandejão como era conhecido o restaurante universitário.

Pertenci ao chamado “baixo clero” dos estudantes vindos do interior.

Eles moravam em pensões no Catete, faziam suas refeições no bandejão ou moravam na casa do estudante nos fundos da faculdade.

O contato dos alunos do interior com seus colegas cariocas ou que moravam no Rio, era muito restrito e seletivo.

Tinha certa intimidade com alguns, como o filho do doutor Sobral Pinto, que morava nas Laranjeiras.

No segundo ano, às vezes era convidado a estudar em seu apartamento ocasião que conheci seu pai famoso.

Após a conclusão do nosso curso de medicina (1960), no início reuníamos todos os anos, sempre, no Rio.

Depois, de cinco em cinco alunos.

Me lembro muito bem de uma reunião que fizemos, para comemorar nossos vinte anos de formados.

Tinha muita gente, alegria, abraços de saudade, mas, já tive dificuldades em reconhecer alguns e algumas.

Nessas ocasiões é comum ouvir a frase, - “você se lembra de beltrano? Ou de sicrano? ”

Deixei a festa totalmente abalado.

Nestes últimos dez anos participei de umas três festas, que reuniu no máximo vinte colegas, no restaurante do Jóquei Clube.

Atualmente, mantenho contato com poucos e, não há mais condições de reunir a turma de médicos de 1960.

Alguns colegas de turma, mesmo em outro plano espiritual, como o Dito Canavarros e Marcondes Pouso Filgueira, aqui de Cuiabá, não são esquecidos por mim.

Cada qual com a sua mania, sempre estivemos juntos.

Ataliba Antônio de Oliveira Neto (Tico), foi o intelectual do nosso grupo e partiu aos trinta e dois anos.

Quando o Presidente Jânio Quadros tomou posse dia 31 de janeiro de 1961, um dos seus primeiros atos foi nomear o recém-formado médico (em 15-12-1960), para ocupar a Delegacia Federal de Saúde em Florianópolis (Santa-Catarina).

Jânio Quadros foi vizinho dos pais de Ataliba, ambos professores e, ficou amigo do esperto guri (Tico).

Por problemas de saúde, o Ataliba pediu demissão do cargo com menos de três meses da sua nomeação e, eu estava presente no dia da sua despedida em Florianópolis.

Dos três colegas que passaram no exame vestibular em primeiro lugar, minha atenção foi para o José Aldrovando.

Ele quase não participava das aulas das outras disciplinas do currículo médico.

Passava os dias, noites e até madrugadas nos laboratórios de anatomia dissecando peças anatômicas.

Logo foi convidado a ser monitor da disciplina sendo auxiliar direto do célebre professor de anatomia, doutor Cavalcante.

Incomodado com o aparente abandono das outras disciplinas, certa ocasião perguntei ao Aldrovando:

Você abandonou o curso de medicina?

Ele me respondeu dizendo:

Quero chegar na Santa Casa, e ouvir a irmãzinha dizer:

Seu paciente está anestesiado. Pode se preparar para o ato cirúrgico.

Só então iria saber o tipo de cirurgia a fazer.

No quarto ano com o professor Cavalcante, implantou a disciplina anatomia descritiva, topográfica e neurológica na faculdade de medicina de Vitória (Espírito Santo).

No final do nosso curso, todas as segundas-feiras à noite, íamos para o Instituto Médico Legal.

Ele era meu professor em técnica cirúrgica, cuja programação era feita de acordo com as peças anatômicas disponíveis.

Eu retornei à Cuiabá, e ele permaneceu fazendo cirurgia cardíaca e torácica e sabendo tudo de anatomia e técnica cirúrgica. Aposentado mora no Rio.

Meus colegas de turma achavam que eu era um estudante muito esforçado, que consegui criar universidades e faculdades de medicina em Mato Grosso.

Gabriel Novis Neves
27-04-2022



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