domingo, 8 de maio de 2022

DIA DAS MÃES


Era uma manhã de um dia de março de 1942, na casinha da rua de Baixo.


Eu completaria sete anos de idade no dia seis de julho.


Minha mãe me vestiu com o uniforme da Escola Modelo Barão de Melgaço, confeccionado por ela.


Me deu uma pasta preta escolar e me mostrou o material que levaria para a escola.


Um livro de alfabetização, caderno de caligrafia, um lápis preto de escrever, uma pequena borracha quadrada e um apontador de lápis.


Também me mostrou a merenda, - um mini pão francês do Latorraca, com manteiga Aviação.


Na pequena garrafa térmica, um copo de leite pingado com café.


Me levou até à porta da nossa casa, e me desejou boa sorte.


Com o corpo reclinado e as mãos nos meus ombros, me disse para seguir em linha reta, até chegar à uma Praça.


Lá encontraria a minha primeira professora, Aureoliona Eustáquio Ribeiro.


O tempo passou rápido demais e, já estava concluindo o meu curso de medicina no Rio de Janeiro, em 1960.


Minha mãe não pode comparecer a minha formatura.


Sua presença seria um justo prêmio para ela, que me encaminhara naquela manhã de março de 1942.


Para tomar essa difícil decisão de ficar em Cuiabá, só mesmo uma mulher sábia.


Mãe deve ser para todos os filhos, e naquele momento a sua filha gestante do primeiro neto, era prioridade em sua vida.


Coube ao meu pai comparecer ao Theatro Municipal do Rio de Janeiro, assistir emocionado à minha colação de grau.


Minha mãe era uma autodidata, com facilidade de aprendizado enorme.


Escrevia com excelente caligrafia e gramática impecável.


Mantinha correspondência semanal, com a sua irmã de Corumbá, de Goiânia (falecida precocemente) e com as três do Rio e seu único irmão médico.


Também com a dona Maria da Bahia, a eterna namorada do seu pai Dr. Alberto Novis.


Enquanto estudei no Rio, toda às quartas-feiras recebia suas lindas cartinhas cheias de amor, carinho e incentivo.


Era poeta e compositora de música popular, tendo gravado com o músico e cantor João Manuel, um disco de frente e verso.


Foi uma educadora nata, sem nunca ter sido homenageada em sua cidade natal.


Mesmo quando os conhecimentos educacionais eram escassos, incentivou o período da pré-escola dos seus nove filhos, com atividades lúdicas.


Todos os seus filhos foram alfabetizados na Escola Pública.


Em 1939 com o meu pai (a diferença de idade entre eles era de 20 anos), foi passear no Rio de Janeiro com seus então três filhos – eu, Yara e Pedro no colo.


Com quatro anos de idade retive na minha memória, o embarque de hidroavião pela rampa do Rio Cuiabá, o Parque do Lido em Copacabana, o escorregador e balanço, brinquedos favoritos das crianças.


Era uma grande orientadora dos trabalhos escolares de casa, sempre escolhendo as madrugadas para essa tarefa.


Nessa época faltava muita luz elétrica em Cuiabá e mamãe acendia velas para nos ensinar português, latim e francês!


Tinha uma enorme facilidade de realizar trabalhos manuais, ajudou muito ao meu pai no bar, sendo por anos a responsável pelos salgadinhos, doces e bolos.


A metodologia educacional da minha mãe na educação dos seus filhos, deu bons resultados.


Dos seus quatro filhos homens, dois são médicos (Gabriel e Inon) um economista (Pedro), todos formados no Rio de Janeiro (aqui não existia universidade).


O caçula (Olyntho) graduou-se em Direito, na Universidade Federal de Mato Grosso, implantada em (1971-1982), pelo seu filho primogênito.


Das cinco filhas, duas concluíram os cursos de Pedagogia (Ylclea) e Serviço Social (Aracy) pela UFMT, e as outras (Yara, Tieta e Ana) o segundo grau completo.


Viúva de Olyntho Neves (Bugre do Bar) por 24 anos, viveu e amou por longos anos, todos os seus nove filhos, netos e bisnetos, que lhe deram a certeza da missão bem cumprida aqui na terra.


Assim era a minha mãe.


Gabriel Novis Neves

11-04-2022



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