sábado, 21 de maio de 2022

OS PITORESCOS XXVI


Bem antigamente pegar o boné significava deixar um lugar. Hoje, pegar o boné é para fazer caminhada.


Na Cuiabá antiga, pedir as contas era afastar do seu trabalho. Hoje, às vezes significa abandonar o companheiro ou companheira, que poderá ser de muitos anos.


Bem antigamente, o Carnaval precedia a Semana Santa. Hoje, com o Covid 19 e sua variante Ômicron, o carnaval passou a ser comemorado depois da Semana Santa.


Na Cuiabá da época da pandemia, os foliões foram obrigados a usar as máscaras protetoras da Organização Mundial da Saúde. Existem máscaras dos ricos que são específicas de bons hospitais, e as fininhas de pano usadas pelos pobres do SUS.


Bem antigamente, as pandemias causavam rebeliões, onde muitos morriam. Hoje, sem rebeliões muitos morreram por falta das vacinas.


Na Cuiabá antiga, houve “duelo de espadas” entre dois médicos sobre a descoberta da febre amarela aqui. Um jurava que a febre amarela existia. Outro de pés juntos afirmava não existir. Foram para o duelo que se converteu no grande “papo furado”, do início do século XX. Havia febre amarela, sim.


Bem antigamente, era comum os duelos entre os homens de bem. O último país do mundo ocidental que aboliu o “duelo” foi o Uruguai em 1980.


Na Cuiabá antiga, essa tradição de lavar a honra vigorou até 1978. Eu tive a honra de ser convidado para um duelo, ainda com a preferência de escolher local, armas e juízes. Claro que não aceitei. Perdi a oportunidade de ser um herói local!


Bem antigamente, as crianças nasciam e várias eram registradas muitos meses ou anos depois. Hoje, já deixam a maternidade com seu registro de nascimento.


Na Cuiabá antiga, ao atender uma cliente o médico fazia a pergunta obrigatória da idade do nascimento. A resposta muitas vezes era –, da data do nascimento ou do registro civil?


Bem antigamente, tinha colegas da mesma idade de nascimento e que frequentavam turmas escolares inferiores. Os que morriam cedo, era muitas vezes pelos seus registros em cartórios. Hoje, há uma doideira para aumentar de idade para ter transporte coletivo grátis, para portadores de carteira de estudantes.


Na Cuiabá antiga, como só tínhamos uma maternidade na rua 13 de Junho, por ocasião dos censos era necessário um tradutor para os números recolhidos. Nossa vizinha Várzea Grande já era uma cidade bem povoada, que não batia com os dados do censo. A maioria dos seus moradores nasciam na maternidade de Cuiabá, sendo assim cuiabanos.


Bem antigamente, o bairro do Porto era muito distante do Palácio Alencastro. Seus alunos estudavam na Escola Senador Azeredo (Peixe Frito), em alusão a abundância desses pescados no rio Cuiabá.


Na Cuiabá antiga, existia uma única ponte sobre o Rio Cuiabá ligando os dois municípios e inaugurada em 1942. Era comum pescar pacu, pintado, piraputanga, dourado e cachara da ponte sobre o rio Cuiabá. Hoje, existem várias pontes e nenhum peixe no rio.


Bem antigamente, Várzea Grande era chamada de “Cidade Industrial” por ser sede de industrias. Hoje, a “Cidade Industrial” está localizada no bairro do Coxipó da Ponte em Cuiabá. Lá é sede do Clube Cuiabá Esporte Clube, que disputa o Brasileirão, Copa do Brasil e Sul Americana. Tem dono.


Na Cuiabá antiga, nossos times de futebol eram o Dom Bosco o mais antigo de Cuiabá com 97 anos de fundação, o Mixto da dona Zulmira Canavarros, o Americano do “seo” Francelino sogro de Garcia Neto, o Paulistano do Armando Cândia, o ABC dos bancários do goleiro Butu, o Atlético Cuiabano, considerado da elite cuiabana, o Operário de Várzea Grande, do Rubens dos Santos. Hoje, os times pertencem ao pessoal do agronegócio.


Bem antigamente, era gostoso viver em Cuiabá, hoje, também.


Gabriel Novis Neves

10-04-2022




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