quinta-feira, 26 de maio de 2022

MÉDICO PACIENTE


Uma das situações mais delicadas da relação médico-paciente, é quando os médicos se transformam em pacientes.


Há quatro anos passei por essa experiência, quando o meu cardiologista me indicou para fazer um procedimento que na época ainda não era realizado em Cuiabá.


Recomendou-me a um colega de residência em Instituto de Cardiologia em São Paulo, que não era cirurgião cardíaco, e sim cardiologista intervencionista.


Também era sua preferência realizar esse procedimento em hospital fora do circuito dos mais conhecidos de São Paulo e todo o Brasil.


Me confidenciou que precisava de um bom centro de hemodinâmica para, através de um cateter colocado na artéria femoral, chegar ao coração.


E tinha acabado de implantar um moderno centro de hemodinâmica, em hospital antigo, porém, pouco conhecido no Brasil.


Procurei antigos cirurgiões cardíacos em São Paulo.


Se fosse em mim, escolheria a cirurgia de peito aberto pelo fulano de tal e no hospital tal, disse-me um famoso médico.


Com relação ao intervencionista que iria me atender, tinha lido alguns dos seus trabalhos científicos.


Fiquei com a opinião do meu cardiologista de Cuiabá, após auscultar referências de outros cardiologistas.


Essa técnica que foi empregada em mim surgiu recentemente na França e foi trazida para o Brasil por esse cardiologista que me fora indicado por Cuiabá.


No final fica aquela pergunta que não gostaria que existisse:


“A decisão da escolha do médico, técnica operatória (no meu caso peito aberto ou fechado) e hospital é sempre a sua! ”


Se tudo ocorrer de acordo com o planejado, maravilha e toca a vida.


Se houver um problema de percurso, quando decidimos contrariar as estratégias do nosso médico de origem, é um terror.


Quando o paciente é médico e não disciplinado, a possibilidade de algum acidente de percurso é maior daquele que o paciente não é médico.


Tinha um professor que dizia que quando precisasse de ser internado em um hospital, que o colocasse em um leito de enfermaria.


Recentemente o professor Florestan Fernandes se recusou a ser atendido em um hospital particular famoso de São Paulo, e disse que como funcionário público, iria ficar no hospital do servidor público.


Essa certeza tive quando de madrugada visitava as enfermarias de puérperas, que dormiam com as lâmpadas acessas, portas abertas, barulhos dos corredores, e tendo ao seu lado os bebês.


Já nos quartos das maternidades particulares, quase sempre encontrávamos mães tensas acordadas, bebês chorando nos braços das enfermeiras tentando administrar algo na chuca, que é a mamadeira do recém-nascido.


Quando preciso de assistência médica, tenho excelentes especialistas que me atendem com muita dedicação.


Todos são bem mais jovens que eu.


Me examinam à exaustão e não deixam de pedir uma montanha de exames complementares para não passarem batidos nos seus diagnósticos clínicos.


Só fui tratar fora por duas vezes, por recomendação deles aos 87 anos de idade.


Peregrinei por três vezes, no centro cirúrgico, centro de tratamento intensivo e quarto isolado, em hospitais de Cuiabá, sempre com o meu popular plano de saúde.


Gabriel Novis Neves

25-05-2022




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