segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

PAUTA DO PORTEIRO


Participei de uma solenidade na UFMT em comemoração aos 40 anos da fundação do Curso de Geologia. Naquela época eu era reitor. 
Durante as festividades pude entender o famoso verso de Fernando Pessoa - “Tudo vale a pena, se a alma não é pequena”.
O Curso de Geologia foi criado quando a nossa universidade tinha apenas três anos de implantação. Enfrentou todas as dificuldades que um curso de sua complexidade apresentava para sobreviver.
Aos 40 anos possuiu um excelente corpo docente composto de doutores e mestres concluintes de doutorado.
Com a participação da mulher em todas as áreas já se nota o encanto feminino em um curso outrora de perfil masculino.
Impressionou-me a participação ativa do seu Centro Acadêmico (comandado por uma mulher), assim como de toda a alta direção do curso, dos professores e da sua matéria prima - os alunos.
Foi realmente uma bela manhã de confraternização acadêmica, sem saudosismos, porém, com a certeza que possuímos um dos melhores cursos de Geologia do país e um motor de desenvolvimento deste Estado.
Ao retornar para minha casa fui acompanhado pelo porteiro do edifício em que moro até o elevador.
Muito ansioso, ele queria me contar uma história. Solicitou-me que escrevesse um artigo sobre o assunto para alertar as nossas autoridades de saúde pública.
Relatou-me que a sua filha de 9 anos, portadora de grande mal asmático, precisava com urgência de atendimento médico.
Estava prostrada, com muita falta de ar, desidratada, com chiado no peito audível, inapetente. Em casa tinha utilizado a medicação de sempre sem sucesso, e o caso estava grave.
Procurou a única UPA em funcionamento na cidade do VLT e, após longa demora, foi aconselhado a procurar uma policlínica próxima (Bairro do Planalto), pois a unidade de pronto atendimento não possuía médico para o atendimento.
A mesma resposta lhe foi dada na Policlínica procurada. Atravessou a cidade e encontrou um especialista em bronquite asmática em crianças na Policlínica do Verdão. 
Foi examinada com desdém, segundo o pai, e receitado um xarope e inalação, obtendo alta.
Ele, desesperado, procurou uma Clínica Privada. Lá a criança foi minuciosamente examinada e avaliada. No local, três tipos de medicação injetável lhe foram administradas e, após melhora, obteve alta com novas medicações.
Dois dias foram suficientes para a sua total recuperação.
O pedido do porteiro foi feito no sentido de informar nossas autoridades responsáveis, blindadas por eficientes serviçais, sobre a realidade da saúde pública ofertada à maioria da nossa população (SUS).
Não podemos ter uma saúde para ricos e outra para 75% da nossa população composta de pobres.
Fica o alerta da nossa triste realidade, contrastando com os anúncios das mídias.

Gabriel Novis Neves
20-11-2015

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