segunda-feira, 19 de setembro de 2022

UMA MANHÃ NO CENTRO DE INFUSÃO


Chego no horário combinado ajudado pelo motorista da minha filha e a enfermeira que cuida de mim.


Desço do carro e caminho com dificuldade até à cadeira de rodas que me levará ao 1º andar do edifício médico.


Passo por corredores, subo elevador, pego a senha e chego ao consultório da médica que irá me avaliar para ser imunotransfundido.


Aguardo alguns minutos para finalmente chegar à sala do tratamento, no final do extenso corredor.


Deixei muitos clientes e crianças aguardando para serem atendidos.


Gente vestida de uniforme branco eram médicas e técnicas de enfermagem e, nas seis horas que fiquei lá não vi um médico ou técnico de enfermagem circulando pela sala de enfermagem e sala de infusão.


A veia do meu braço esquerdo foi pega com facilidade, pois, não era bailarina e a droga está circulando.


São nove vidros e terminarei o tratamento, após às 13 horas.


Na minha sala existem seis poltronas camas para pacientes, todas ocupadas.


Cada qual tem a sua história, e seus comportamentos são os mais variados.


As mulheres são maioria nesse pequeno universo e sou o mais velho do grupo.


Do meu lado esquerdo um senhor tagarela, que não parou um minuto de falar, puxando conversas com todos e perguntando.


Descreveu com detalhes a sua doença e a medicação que tomava na veia, por que ele falou que era médico cirurgião gastro.


Formou-se na UFMT, fez Residência Médica e Mestrado aqui, e tem 56 anos de idade.


Cabelos grisalhos parece mais envelhecido talvez pela doença[A1] que o afastou do consultório.


Puxou tanta conversa e perguntas enquanto eu escrevia no meu celular sem parar, que fui obrigado a me identificar.


Ficou surpreso ao saber o meu nome e me perguntou se eu era o pai do Gabriel Novis Neves.


Disse-lhe que eu era o mesmo, e baixei a máscara para facilitar o meu reconhecimento!


É um apaixonado pela história recente de Cuiabá, mesmo assim, trocou o nome da esposa do Presidente da República, responsável pela construção do Aeroporto Marechal Rondon.


Confundiu Yolanda Costa e Silva, com Maria Thereza Goulart, a responsável pela obra do Aeroporto em Várzea Grande, que concluído tinha o seu nome.


Veio a Revolução e Marechal Rondon, passou a ser chamado o Aeroporto de Várzea Grande.


Estou transmitido essas informações para mostrar a extrema necessidade que os pacientes nessas condições de saúde têm de se comunicarem.


Este é o seu espaço social, com o qual se identificam com o mundo, diferente das Unidades de Terapia Intensiva (UTI).


Também é permitido trazer um acompanhante, o meu era uma enfermeira universitária, ficando o quarto ou sala com portas de vidro bem abertas, para o corredor.


A conversa do médico agora é com duas senhoras, uma brasileira, sua cliente, e outra asiática, e o assunto é sobre o número de farmácias existentes em Cuiabá.


Uma bem-humorada disse que aqui tem uma farmácia ao lado uma distribuidora de bebidas.


Todas se queixaram do preço mensal dos medicamentos receitados pelos especialistas.


Ouço o chorar de crianças na sala ao lado.


Uma senhorinha ao meu lado diz que criança chora de medo, e a dor não existe.


A minha sala está vazia, pelo adiantado da hora e o tipo e dosagem de medicamentos usados por cada um.


Ainda tenho 6 vidros a serem transfundidos.


Voltarei no próximo mês, até janeiro do próximo ano, quando estarei com as taxas das minhas imunoglobulinas normais, me fornecendo imunidades para continuar vivendo bem.


Gabriel Novis Neves

16-09-2022




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