Conversando com uma colega da turma de médicos de 1960, ela se referiu que, atualmente, a morte não é vista como um acontecimento biológico.
Citou o exemplo da Rainha Elizabeth, que dois dias antes de ir para sua casa de veraneio na Escócia, cumpriu sua agenda em Londres normalmente.
No Palácio de veraneio, como um passarinho, deixou de existir.
Morreu de forma leve, como antigamente, em casa, tão diferente dos dias atuais.
Hoje, mesmo aqueles pacientes gravíssimos e com patologias irreversíveis, são levados para os hospitais com as suas Utis cheias de equipamentos de última geração, que não curam, mas conseguem prorrogar até por anos, os batimentos cardíacos desses infelizes.
Até parece que a Uti é o passaporte para a morte, lotando sempre esses espaços em todo o Brasil.
Como médico sei o quanto é caro a diária em uma Uti, cujas despesas são cobertas por apenas poucos planos de saúde.
Todo hospital, especialmente os de grande porte, não se interessam em aumentar o número de quartos ou leitos de enfermaria, e sim as suas Utis.
Numa cidade como Cuiabá um hospital não sobrevive sem um número elevado de quartos em Utis.
São muito mais rendáveis que num leito de hospital.
Tenho experiência de médico que começou sua carreira no Rio de Janeiro, aprendendo e trabalhando em hospitais sem Utis.
Os pacientes gravíssimos ficavam em enfermarias especiais com balões de oxigênio e sondas quando necessárias.
Por duas vezes fiquei internado em Utis, uma vez em Cuiabá e a outra em São Paulo, por “precaução! ”
Acho muito difícil reverter essa situação e as pessoas possam ser dispensadas desse “moderno passaporte”, inventado pela indústria farmacêutica e de equipamentos hospitalares, e voltem a morrer em casa de forma leve.
A vida de todos os seres tem começo, meio e fim, e assim fomos concebidos.
É a lei da natureza!
Gabriel Novis Neves
10-09-2022
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