Depois que comecei a publicar as minhas crônicas no blog do www.bar-do- bugre.blogspot.com em 2009, e escrever sobre o meu pai, ele se tornou conhecido pelas gerações atuais.
Muitos chegantes que não o conhecerem demonstram curiosidade em saber mais dessa figura emblemática do início do século XX, que foi o Bugre do Bar.
Professores universitários da disciplina de sociologia e história, são os mais entusiastas.
Pelo perfil do meu pai acham que podem entender melhor a Cuiabá de antanho, seus moradores e costumes.
Dia desses me perguntaram se o Bugre, alguma vez tenha feito referência ao calor de Cuiabá, motivo para muitos atualmente lamentar não terem podido escolher a cidade onde nascer.
Já escrevi tantos textos sobre o meu pai, pelo qual sinto muito orgulho de ser seu primogênito, que amigos já me aconselharam a imprimir cem melhores crônicas sobre ele.
Começaria com seu currículo da vida e encerraria com os nove filhos do Bugre.
Quanto mais me cutucam, mais recordações surgem na minha memória.
Meu pai foi um homem simples, sem maldades ou egoísmo.
Todos os dias de pijama de mangas e calças compridas, após a soneca depois do almoço, o seu prazer era tomar banho de água do tanque de cimento, na área de serviço, atrás da varanda da minha casa.
Geralmente era acompanhado pelos três filhos homens mais velhos (eu, Pedro e Inon), para desespero da minha pudica mãe.
Inconscientemente estava nos ensinando a lidar com o corpo, hoje causa de muito sofrimento psicológico.
Era um homem afável, de pouca conversa, conservador ao extremo nunca mudando seus hábitos sociais, familiares ou comerciais.
Avesso as festas, só me lembro dele ter ido sozinho a um aniversário, antes de voltar ao bar depois do almoço.
Era da sua comadre Nana Vieira, mãe do seu filho único Augusto Mário Vieira.
Casamento só foi das suas cinco filhas, meu e do Olyntho.
Do Pedro e Inon realizados no Rio de Janeiro, não pode comparecer assim como eu e demais irmãos.
Era católico não praticante, porém devoto de São Pedro, o protetor da Família Novis Neves, e levava a imagem do Santo para a missa do dia 28 de junho, data da fundação do Bar Moderno.
Enquanto teve saúde, todos os anos fechava as portas do bar na segunda feira à tarde para “tirar esmolas” para o Senhor Divino, saindo da Matriz às 14horas e retornando já de noitinha.
Meu pai de terno e gravata, barba feita, óculos, carregava a bandeira do Divino, acompanhado pela bandinha que podia ser do mestre Ignácio do Baú.
Quanta recordação guardo do meu pai e quando escrevo sobre ele, a minha memória faz jorrar essas lembranças sem dificuldades na tela do computador.
Gabriel Novis Neves
15-09-2022
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