segunda-feira, 26 de setembro de 2022

CARREGAR PEDRAS


Nunca soube ficar sem fazer nada, por “defeito” de criação.


Considero isso uma doença grave, apesar de saber que muita gente saudável possui esse hábito, não lhe causando nenhum malefício em não fazer absolutamente nada.


Jorginho Guinle nunca trabalhou em sua longa vida, vivendo da herança que seu pai deixou.


Quando o dinheiro acabou, morreu em um quarto de hotel por favor, sem família ou amigos.


Minha mãe me ensinou que mesmo não tendo nada a fazer, enquanto esperava, era bom “carregar pedras”.


Não sendo romancista escrevo o que penso e faço na prática.


Quando criança nas férias escolares, recordava as lições, mesmo tendo sido aprovado de ano, por orientação da minha mãe.


No Rio lia jornal no bonde indo para a faculdade.


Depois que passei a frequentar hospitais, onde as distâncias eram maiores do local onde morava, como o Getúlio Vargas na Penha, lia até dois jornais, inclusive a página de anúncios.


Ali com frequência encontrava aluguel de vaga de quarto em pensão mais em conta que o meu.


Era um jornal de ida e outro de volta, às vezes reforçado pela leitura de uma revistinha sobre futebol, que ganhava no hospital ou pedia emprestado de algum paciente.


E assim fui até me aposentar das minhas atividades profissionais.


Hoje, ao acordar e me levantar da cama para tomar o café, tenho tanta coisa a fazer que não sinto o tempo passar.


Às vezes sonho que estou trabalhando e não acordo, pois não é pesadelo.


Escrevo esta terceira crônica nesta manhã, enquanto espero terminar correr em minha veia, seis frascos de imunoglobulinas de fabricação chinesa receitado pela infectologista competente que me acompanha.


Cheguei ao Centro de Infusão às oito horas e pelo gotejamento só ficarei livre dessa “espera”, por volta das 14 horas.


Não sinto fome, sede ou dor e para ajudar o tempo passar escrevo crônicas como a minha mãe me ensinou de “carregar pedras”.


Nesse caso agora é muito prazeroso “carregar as pedras” que é escrever mais uma despretensiosa crônica que faço diariamente.


As motivações é que são diferentes.


Nunca esperava tanta inspiração num quarto de hospital! 


Termino agora, pois o meu iPhone gastou sua bateria e estou sem o carregador, e não carrego comigo para não ficar viciado, em escrever por longas horas em qualquer lugar.


Gabriel Novis Neves

17-09-2022





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