Em
todas as camadas sociais encontramos falsos moralistas.
Para
os habitantes desta terra abençoada, que em se plantando tudo dá, o falso
moralismo é quase uma necessidade biológica.
Alguns
poderão dizer que excessos existem, e que a hipocrisia não é tão
intensa assim.
Existe
um setor no nosso país em que há uma unanimidade de falso moralismo.
Estou
me referindo ao nosso serviço público, que tão bem conhecemos como funciona.
Quase
todos os grandes escândalos atualmente têm a participação dos órgãos públicos.
Pois
bem, em termos de moralismo esse setor é imbatível.
Funcionário
público federal aposentado. Por lei é obrigado todos os anos, no mês do seu
aniversário, a comparecer à sede da sua repartição para fazer o recadastramento
para não ter o seu salário cortado.
É
uma medida moralizadora à classe dos pequenos barnabés que, muitas vezes,
em cadeiras de rodas, são obrigados a provar que ainda estão vivos.
Esse
"qualquer um" foi ao seu antigo serviço com grandes dificuldades
de locomoção para cumprir a lei.
Encontrou
o prédio fechado, com cartazes, adesivos e faixas, anunciando a greve dos
funcionários.
Desesperado,
com receio de ficar sem o dinheiro para a compra da sua cesta básica de
medicamentos, implorou ao guarda do prédio, para que o ajudasse a resolver a
sua situação.
Foi orientado para que utilizasse o elevador da garagem.
Nesse
momento da cabine de segurança, ele percebe que o "visitante" estava
de bermudas.
Como zelador da ordem e dos bons costumes, avisa que o regulamento daquela
repartição não permite o acesso de pessoas com bermudas nas suas
dependências.
Procurou
pelo chefe da casa, única autoridade com poderes de decidir sobre esse caso.
Não o encontrou. Tinha saído.
Diante
daquela quase tragédia típica de falso moralismo e na iminência de não resolver
o seu caso, o idoso implora ao segurança para que insista em encontrar outra
estratégia.
Este
então, se comunica com a funcionária responsável pelo recadastramento, dizendo
tratar-se de um caso especial.
A
servidora em um gesto humanitário o atende na garagem.
Recadastramento
feito, o ex-servidor humilhado volta para casa.
O
serviço público, reduto das mais altas demonstrações de imoralidade, viu, nos
trajes do velho, um impedimento para que ele fosse dignamente atendido.
Triste
constatar que a insensibilidade arrogante e o falso moralismo dos fazedores dos
regulamentos públicos não conheçam o velho adágio que diz que “o hábito não faz
o monge”.
Este
ano o recadastramento será feito nos bancos. Será que eles são mais
humanizados?
Gabriel Novis Neves
27-03-2013
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