domingo, 23 de junho de 2013

RABO DE OLHO

Muitas pessoas, quando em transporte coletivo de longo percurso, gostam de arriscar um discreto olhar no que o seu vizinho está lendo. É a famosa leitura de rabo de olho.
Contam histórias fantásticas, semelhantes às descobertas de verdadeiras pérolas.
Um famoso escritor, certa ocasião, interessou-se pelo título de um livro do Zuenir Ventura, que descobriu numa olhada de rabo de olho.
Memorizou seu título e, na primeira livraria pediu o último lançamento do Zuenir.
O funcionário trouxe-lhe um exemplar de “Veia bailarina”. O ávido comprador mandou embrulhá-lo. Ao chegar em casa sentiu-se logrado por uns instantes. Tinha entendido que o titulo era a “Véia bailarina”.
O conteúdo do livro é do conhecimento de todos.
Foi um drama pessoal vivido pelo escritor. Com aneurisma cerebral, em uma fase que não há unanimidade no tratamento, fez opção pela cirurgia.
Transformou todo o seu sofrimento, com sensação de morte, em pura poesia. Encontrou essa motivação em um lugar onde jamais pensou ser possível ouvir poemas tão lindos!
Ouviu das enfermeiras no Centro Cirúrgico a história daquela veia fácil de ser vista, mas, ao contato com a ponta da agulha, foge, imitando os leves e delicados movimentos de uma bailarina.
Os profissionais de saúde costumam chamá-la de ‘veia bailarina’ - pois é uma verdadeira dança que realiza fugindo do seu algoz.
“Quando a vida faz uma curva”, é outro livro descoberto pelo rabo de olho por um amigo curioso.
É adquirido, na maioria das vezes, como um livro poético, porém foi escrito por um jovem motociclista. Ele sofreu um grave acidente em uma curva da nossa principal estrada de turismo - que o fez morar por muito tempo em um hospital público de urgência e emergência.
Nesse período, passava seus dias entre o Centro Cirúrgico, UTI e Enfermaria. Só perdeu a consciência na sua chegada ao hospital.  Estava com politraumatismo, em coma. E também, claro, durante as várias intervenções cirúrgicas, produzidas por medicamentos anestésicos.
Nos momentos de lucidez aproveitava para anotar os fatos que observou nos estranhos ambientes que viveu nesse período, recuperando as esperanças.
Após a alta hospitalar, transformou suas recordações em um livro: “Quando a vida faz uma curva”.
A leitura é comovente.
Impressionante como nos esforçamos para não interrompermos a nossa existência.
“O sentido da vida é buscar qualquer sentido” - Carlos Drummond de Andrade.

Gabriel Novis Neves
06-06-2013

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