Há poucos dias conversei muito com uma querida amiga médica, durante muitos anos minha companheira de hospital.
Sempre, nesses anos todo de convivência, ela ia para o trabalho carregando um livro debaixo do braço.
Era sua marca registrada de presença no laboratório de imagens, embora muitas vezes o trabalho era tão intenso que nem abria o livro.
O motivo da nossa conversa foi sobre as fotos antigas.
No meu tempo de criança as famílias, de um modo geral, eram numerosas e todos tinham a foto com pais e filhos.
Esse troféu era colocado na parede da sala de visitas. Na minha casa meu pai de terno, minha mãe com o seu melhor vestido e a filharada (éramos nove) com os menores sentados com meus pais no sofá e os mais crescidos de pé atrás deles.
Chama a atenção que até os anos cinquenta todos estavam sérios.
Os hábitos mudaram, e hoje dificilmente você vê uma foto com pessoas sem um sorriso.
O que aconteceu para essa definitiva mudança de hábitos?
Segundo o psicanalista, escritor e jornalista italiano Contardo Calligaris, falecido em março do ano passado em São Paulo aos setenta e dois anos de idade vítima de câncer, houve uma exigência do sorriso, símbolo de felicidade!
O mercado exige o sorriso, exigência mercadológico de felicidade.
Os homens, desde sempre , procuram a felicidade e não a encontra.
Até nos momentos que podemos usufruir da felicidade, nos punimos.
Estamos sempre em constantes buscas. Nossa colega ficou intrigada da felicidade ser uma exigência mercadológica e foi rever suas fotos da infância, sempre sem o desejado sorriso.
De um modo geral, ninguém gosta de ver alguém feliz, e o sorriso engana esse sentimento de felicidade que tanto procuramos.
Procurem fotos antigas e confirmem o que narro.
Estamos sempre em constantes buscas, desde a perda do Paraíso quando Eva comeu o fruto proibido.
Gabriel Novis Neves
04-05-2021
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