Quando criança, como eu gostava de ajudar minha mãe a enfeitar a frente da nossa casa e a rua por onde passaria a procissão de Corpus Christi!
Todos os moradores que viviam ao longo do trajeto faziam o mesmo.
A procissão saía da Catedral Metropolitana, percorria a rua de Cima, descia a Voluntários da Pátria, alcançava a rua de Baixo e, então, retornava à Catedral.
Todo esse caminho era coberto por tapetes de flores com imagens bíblicas, e as casas se adornavam com finas toalhas de linho branco e flores em suas fachadas.
O vigário carregava o Corpo e Sangue de Cristo sob um pálio sustentado por fiéis.
Foi o espetáculo religioso mais comovente que presenciei na década de quarenta.
Era quando o Corpo de Deus deixava o altar da Catedral e, levado em ostensório, o Santíssimo Sacramento percorria as ruas de Cuiabá, distribuindo bênçãos.
Os fiéis rezavam, cantavam e o povo acompanhava, numa bela demonstração de fé cristã.
A confecção dos tapetes, além de um ato de devoção, era também momento de confraternização entre os fiéis.
Utilizavam-se materiais simples: pó de café usado, sal, areia, tintas para tingir, tampinhas de garrafas, cascas de ovos, cal para pintura — tudo ganhava nova vida na confecção dos tradicionais tapetes de Corpus Christi.
A tradição nasceu em Portugal e foi trazida ao Brasil pelos colonizadores.
É uma procissão do amor, pois Jesus — e Deus — é amor.
A solenidade de Corpus Christi tem origem no século XIII, instituída pela Igreja Católica para celebrar a presença real de Cristo na Eucaristia.
Os tapetes desse dia sagrado evocam a Última Ceia de Jesus com os apóstolos, e também a entrada triunfal de Cristo em Jerusalém.
Os fiéis só podem pisar nos tapetes após a passagem do padre com o Santíssimo.
Gabriel Novis Neves
19-06-2025
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