segunda-feira, 9 de junho de 2025

BRINDANDO A VIDA


Aceitei o convite da minha filha para o almoço do primeiro sábado de junho.

 

Sei que meu estado de saúde não permite essas extravagâncias.

 

Costumo almoçar com a cuidadora e, em seguida, vou direto para a sesta.

 

A reunião da família acontece uma vez por semana, mas logo deixo a sala — não janto e o lanche das sete da noite me é servido na cama.

 

Não me lembro da última vez em que almocei ou jantei fora.

 

Já testei: não me sinto bem quando saio de casa.

 

Dou um trabalhão ao motorista, à enfermeira e a quem me convida.

 

Mesmo em datas especiais — como Natal, Ano Novo e meu aniversário — mantenho a rotina de ficar em casa e dormir cedo.

 

Hoje, forcei a barra.

 

Sai do meu quarto, sentado na cadeira de rodas, até a casa da minha filha, a vinte minutos daqui.

 

Logo nos sentamos à mesa, com quatro convidados e o esposo dela.

 

Um filho e a esposa estavam em São Paulo. Outro, tinha um compromisso.

 

Meus netos e bisnetos estavam em aniversários de amigos.


Mas minha filha insistiu tanto, que acabei cedendo.

 

Já saí de casa sentindo um mal-estar. Mas insisti.

 

Não aproveitei a comida deliciosa, não conversei com ninguém e só pensava em voltar.

 

Joguei-me na cama por uma hora e levantei-me para escrever.

 

Será que ninguém entende a velhice em uma pessoa com saúde?

 

Sei que esses convites são demonstrações de carinho.

 

Mas a minha recusa precisa ser compreendida como um limite imposto pela saúde.

 

Doente não é só quem está internado em uma UTI.

 

Tenho muita saúde para minha idade, estou bem — mas tenho certas limitações.

 

A mais importante delas é a locomoção, mesmo em cadeira de rodas.

 

Gabriel Novis Neves

07-06-2025




Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.